Em declarações à imprensa na sede das Nações Unidas (ONU), em Nova Iorque, Guterres considerou que seria trágico se semanas de intensa atividade diplomática pela paz em Gaza não produzissem um cessar-fogo, a libertação de reféns e ainda “uma ofensiva devastadora” em Rafah.
“Depois de mais de 1.100 israelitas mortos nos ataques terroristas do Hamas de 07 de Outubro… depois de mais de 34.000 palestinianos mortos em Gaza, não vimos o suficiente? Os civis não sofreram mortes e destruição suficientes?”, questionou o secretário-geral.
“Não se enganem – um ataque em grande escala a Rafah será uma catástrofe humana. Mais incontáveis vítimas civis. Inúmeras famílias novamente forçadas a fugir, sem ter para onde ir, porque não há lugar seguro em Gaza”, frisou.
O líder da ONU observou que esta não é apenas a sua visão, uma vez que “até os melhores amigos de Israel são claros: um ataque a Rafah seria um erro estratégico, uma calamidade política e um pesadelo humanitário”.
De acordo com o ex-primeiro-ministro português, a situação está a caminhar “na direção errada”, considerando ainda o encerramento das passagens de Rafah e Karem Shalom como “especialmente prejudicial” para uma situação humanitária já grave no enclave palestiniano.
“Devem ser reabertas imediatamente”, instou, alertando que o combustível que entra na cidade deverá acabar ainda esta noite.
Sublinhando que se trata de um momento decisivo, Guterres enfatizou que as repercussões do ataque a Rafah serão sentidas não apenas localmente, mas também na “Cisjordânia ocupada e em toda a região”, uma vez que Rafah é o centro das operações humanitárias em Gaza.
O secretário-geral apelou ainda a todos aqueles que têm influência sobre Israel para que façam tudo o que estiver ao seu alcance para ajudar a evitar ainda mais tragédias, advogando que um acordo entre o Governo israelita e a liderança do Hamas é essencial para pôr fim ao “sofrimento insuportável” dos palestinianos em Gaza e dos reféns e suas famílias.
A comunidade internacional, reforçou Guterres, tem a responsabilidade partilhada de promover um cessar-fogo humanitário, a libertação incondicional de todos os reféns e um aumento massivo na ajuda vital ao enclave.
“É hora de as partes aproveitarem a oportunidade e garantirem um acordo para o bem do seu próprio povo”, concluiu.
O exército israelita confirmou no início do dia de hoje que tinha tomado o lado palestiniano da passagem de Rafah, que serve como um dos principais pontos de entrada de ajuda humanitária no enclave, como parte do que descreveu ser uma “atividade orientada” em “áreas limitadas” contra a “infraestrutura terrorista” do Hamas.
A operação foi lançada horas depois de o gabinete de guerra criado em Israel após 07 de outubro ter concordado unanimemente em avançar com a ofensiva em Rafah, depois de o grupo islamita palestiniano ter afirmado que tinha aceitado uma proposta de cessar-fogo apresentada pelo Qatar e pelo Egito, argumentando que o texto apoiado pelo Hamas “fica muito aquém” das exigências israelitas.
Lusa