A Junta Eleitoral Central (similar à Comissão Nacional de Eleições em Portugal) acedeu hoje a um pedido da empresa Correios para o prazo para votar por correspondência, que terminava esta quinta-feira, ser alargado por algumas horas, até às 14:00 de sexta-feira.
Mais de 2,6 milhões de eleitores, perto de 7% do total, pediram para votar por correio, algo que a lei espanhola permite a todos os recenseados em território espanhol.
O número é um recorde, que até agora estava em 1,4 milhões nas eleições de 2016.
Por causa deste volume de pedidos, os Correios contrataram mais de 20 mil pessoas para reforçar os serviços, 6.000 carteiros distribuíram documentação de voto no fim de semana, milhares de lojas da empresa estiveram abertas no sábado e domingo em todo o país e os horários foram alargados até às 22:00 nos dias úteis.
Segundo dados de hoje dos sindicatos dos trabalhadores dos Correios, 91% das pessoas que pediram para votar por correspondência já entregaram o voto numa das lojas da empresa, onde obrigatoriamente os envelopes com os boletins têm de ser deixados, após apresentação da identificação do eleitor.
O voto por correio esteve no centro de debates e polémicas desde que as eleições foram convocadas para 23 de julho, de forma inesperada, há menos de dois meses.
O líder do Partido Popular (PP, direita), a maior força da oposição espanhola e que surge à frente nas sondagens, pediu aos carteiros, num comício de campanha na semana passada, para "independentemente dos chefes", distribuírem a documentação para votar, mesmo que tenham de trabalhar "de manhã, à tarde e à noite", e prometeu que ele mesmo lhes pagará as horas extraordinárias quando liderar o Governo, no primeiro Conselho de Ministros que presidir.
Estas declarações de Alberto Núñez Feijóo, que no passado foi presidente da administração dos Correios, foram criticadas por outros partidos, pelos sindicatos e pela direção da empresa, que insistiram na fiabilidade do processo, como é reconhecido internacionalmente, e acusaram o líder do PP de ter adotado uma "estratégia ‘trumpista’[numa referência ao ex-Presidente norte-americano Donald Trump]", para poder eventualmente questionar os resultados das eleições.
Feijóo acabou por esclarecer no dia seguinte que não quis insinuar que há uma tentativa de fraude ou de manipulação de votos, mas que simplesmente se referiu a um "congestionamento" na distribuição dos Correios com base em queixas de sindicatos.
Apesar do esclarecimento e atendendo ao volume de pedidos, o voto por correio manteve-se presente e sob permanente escrutínio nos debates, nas reportagens e no noticiário da campanha.
Outro "caso da campanha" das legislativas espanholas de 23 de julho foi "o debate sobre os debates" entre candidatos nas televisões nacionais.
Entre o líder do Governo e recandidato ao cargo, o socialista Pedro Sánchez, e o líder da oposição, Feijóo, houve um debate, depois de o atual primeiro-ministro, em desvantagem nas sondagens, ter desafiado o adversário para seis "frente-a-frente".
O debate foi em canais de um grupo privado de comunicação social, por exigência de Feijóo, que questionou a imparcialidade da televisão pública espanhola.
Na quarta-feira houve o segundo debate, na televisão pública, com Sánchez e os líderes da extrema-direita e da extrema-esquerda (que poderão entrar no governo em coligações pós-eleitorais), mas sem Feijóo.
Ao longo de semanas, com muitas críticas a Feijóo, os partidos, incluindo o PP, debateram a possibilidade de incluírem na lei eleitoral uma regulamentação para os debates, com obrigações de participação e um papel definido para os canais de serviço público de televisão.
A realização de eleições em pleno verão, nas semanas de mais calor do ano e com boa parte da população de férias, foi outro dos casos da campanha, até pela coincidência, neste caso concreto, com uma onda de calor que já registou recordes de temperatura em algumas regiões de Espanha.
Os socialistas têm ouvido acusações de terem convocado as eleições para estas datas intencionalmente, para o eleitorado descontente com o Governo atual não ir votar. Defendem-se das acusações com os prazos da lei eleitoral, que não permitiam antecipar as eleições para mais cedo, e sublinham que flexibilizaram as regras e os prazos do voto por correio, para o tornar mais ágil e acessível.
Também neste caso os partidos ponderam mudar a lei para proibir eleições em pleno verão, como já acontece, por exemplo, na lei eleitoral regional da Andaluzia, que estabelece que não se pode votar para o parlamento autonómico nos meses de julho e agosto, precisamente, por causa das limitações e perigos do calor.
Lusa