Pedro Tavares, proprietário da Ribadão, uma empresa familiar especializada em pavimentos e com a área de atuação maioritariamente no estado da Florida, afirmou à Lusa que, após um período de “alguma instabilidade, com as pessoas a segurarem muito os investimentos”, a confiança dos investidores aumentou na sequência da eleição de Donald Trump.
“Sinceramente, viemos de três anos um pouco instáveis, em que realmente se sentiu que os EUA foram um pouco abaixo. Muitos problemas sociais, a imigração descontrolada, as guerras ao redor do mundo. As pessoas começaram a ficar frustradas e as pessoas de capital começaram a retrair-se”, avaliou o empresário.
Pedro Tavares fala por experiência própria, uma vez que além do seu negócio de comercialização de pisos, é também investidor, especialmente no ramo imobiliário, admitindo que no período pós-pandemia deixou de sentir confiança para continua a investir e dedicou-se exclusivamente ao seu negócio.
Contudo, tudo mudou com a eleição de Donald Trump no passado dia 05 de novembro, garantiu.
“Eu até já tinha dado o meu ano como finalizado, mas de um momento para o outro comecei a sentir falhas no inventário por vender demasiado. Não estava preparado para este movimento tão bom. Foi um bom problema. Porque o dinheiro existe, o dinheiro não desapareceu. Mas agora as pessoas já olham novamente para os investimentos. Mesmo na bolsa, no mercado de valores, sente-se outra confiança”, acrescentou o português.
O Fundo Monetário Internacional (FMI) considerou na semana passada ser demasiado cedo para especular sobre o impacto económico das políticas de Donald Trump, apontando que a instituição avaliará os seus potenciais efeitos quando forem conhecidos mais detalhes.
Durante a sua campanha eleitoral, Trump prometeu manter a trajetória de endurecimento da política de tarifas sobre bens importados da Europa e, em particular, da China.
Estas medidas, em parte, foram mantidas (e em alguns casos ampliadas) pelo atual Presidente, Joe Biden, mas Trump quer agora um reforço de taxas em diversos setores, alegando a necessidade de fortalecer a competitividade da economia norte-americana.
Trump propõe novas tarifas, de 10% a 20%, sobre muitos produtos estrangeiros, com os oriundos da China a poderem chegar a taxas de 60%, procurando acabar com externalização de vários setores económicos.
Questionado pela Lusa sobre o eventual impacto desses planos económicos protecionistas, Tavares acredita que poderá sair beneficiado.
“Sei que pode soar um pouco egoísta, mas o braço de ferro que o Trump faz com a China só me beneficia, porque eu tenho produção em Portugal. Sempre foi impossível para um europeu competir com a China. Por isso, eu só fazia vendas esporádicas dos produtos portugueses. Mas quando o Trump foi eleito da primeira vez, ele colocou tarifas e a produção da minha fábrica em Portugal para os EUA começou logo a crescer”, recordou, considerando que essas tarifas impostas à China nivelaram a concorrência.
Contudo, o português, que trabalha maioritariamente no mercado residencial, também é importador de material da China, podendo agora não só enfrentar eventuais impactos de tarifas impostas à China, como à Europa.
Face à eventualidade de tarifas serem aplicadas a Portugal no seu setor, o empresário já está preparado para qualquer cenário e pronto para montar uma fábrica nos EUA para abastecer o mercado americano, descartando grandes impactos.
Também António Frias, um dos maiores empresários portugueses nos EUA e apoiante de Donald Trump, não tem dúvidas de que a economia norte-americana vai melhorar sob o Governo do republicano, a quem não poupou elogios.
“Gosto de tudo no Trump, porque, em primeiro lugar, ele é um homem de negócios e sabe como é que as coisas trabalham. Outra coisa é quando ele esteve na Presidência não houve guerras, a energia estava muito mais barata, havia trabalho com fartura, não faltava nada no mercado e não entravam milhões imigrantes ilegais. Ele só fez coisas boas”, defendeu o empresário de 85 anos, que confessa ter ajudado no financiamento da campanha de Trump.
Nascido na ilha açoriana de Santa Maria, António Frias emigrou aos 16 anos para o estado do Massachusetts, onde fundou a S&F Concrete Contractors, empresa do ramo de cimento e construção que emprega hoje cerca de 700 funcionários e que tem no seu portefólio a execução de obras emblemáticas como a construção do Gillette Stadium, o estádio da equipa de futebol americano New England Patriots, ou o pavilhão da equipa norte-americana de basquetebol Boston Celtics.
António Frias confia que “vai tudo melhorar” com o regresso de Trump à Casa Branca e acredita que a política de tarifas não será agressiva como alguns economistas projetam.
“Isto vai tudo melhorar, mas vai demorar mais de um ano. O Trump já teve quatro anos de Governo e foi uma maravilha enquanto lá esteve. Agora, até era uma vergonha para a América como as coisas estavam. Eu não tive prejuízos nos últimos quatro anos, mas o país estava a ir muito abaixo”, disse à Lusa o empresário.
Em relação às tarifas, “acredito que é mais conversa do que outra coisa, vai haver algum endurecimento, mas vai tudo trabalhar”, apontou o octogenário.
Lusa