“Esta semana, no mesmo dia em que anunciava um processo judicial, o senhor primeiro-ministro enviou-me uma mensagem escrita em que reconhece que me contactou para me transmitir a inoportunidade do afastamento da engenheira Isabel dos Santos. Ou seja, é o próprio primeiro-ministro a confirmar a tentativa de intromissão do poder político junto do Banco de Portugal”, disse o antecessor de Mário Centeno, numa intervenção na apresentação do livro “O Governador”, na Gulbenkian, em Lisboa.
Carlos Costa disse ainda confirmar que António Costa o “contactou por chamada” para o telemóvel no dia 12 de abril à tarde, depois de uma reunião que o antigo governador teve com Isabel dos Santos, com o sócio da empresária angolana Fernando Telles e com o diretor do departamento de supervisão Carlos Albuquerque.
Segundo Carlos Costa, “nessa chamada telefónica me comunicou que não se pode tratar mal a filha do presidente de um país amigo”.
“A partir de agora cabe a cada um fazer os seus juízos”, afirmou.
O livro "O Governador", publicado pela Dom Quixote, resulta de um conjunto de entrevistas do jornalista do Observador Luís Rosa a Carlos Costa, que liderou o Banco de Portugal entre 2010 e 2020, e tem causado polémica.
O primeiro-ministro, António Costa, já afirmou que irá processar o ex-governador do Banco de Portugal por ofensa à sua honra, depois de, no livro, o antecessor de Mário Centeno ter relatado que foi pressionado pelo chefe do Governo para não retirar Isabel dos Santos do BIC.
Durante a intervenção hoje, Carlos Costa justificou a decisão de concretizar o livro com “contribuir para o reforço de respeito que merece a instituição do Banco de Portugal”, no que diz ser uma “tarefa de interesse público”.
Assim, o antigo governador considerou ser seu “dever contribuir para o escrutínio” dos dez anos em que liderou o Banco de Portugal, por ser uma prática de “prestação de contas e comum no norte da Europa” e contribuir para uma “compreensão do presente e dos condicionantes futuros”.
“O Banco de Portugal contou muito mais do que aparentemente se pensa, do que se olha para as notícias públicas na época”, vincou, destacando o papel do supervisor na estabilidade económica e financeira do país.
Os ex-Presidentes da República Cavaco Silva e Ramalho Eanes, o antigo primeiro-ministro Passos Coelho e o presidente do PSD, Luís Montenegro, marcaram hoje presença na apresentação do livro.
Também Teixeira dos Santos, antigo ministro das Finanças do Governo do PS chefiado por José Sócrates, e o antigo deputado socialista António Galamba estiveram na apresentação, numa sala completamente cheia e com muitas pessoas de pé.
Os antigos ministros do PSD Miguel Relvas, Paula Teixeira da Cruz, Aguiar-Branco, Miguel Cadilhe e do CDS-PP António Pires de Lima foram outras das personalidades presentes.
Da atual direção do PSD, além de Luís Montenegro, esteve também presente o líder parlamentar, Joaquim Miranda Sarmento.
A antiga procuradora-geral da República Joana Marques Vidal, o ex-banqueiro José Maria Ricciardi, a magistrada Maria José Morgado, o sociólogo António Barreto ou o antigo assessor político de Passos Coelho Miguel Morgado foram outras das presenças.