"Ele acusa os médicos do SESARAM (Serviço Regional de Saúde) de negligência por não fazerem um produto que está desaconselhado [por organismos internacionais e nacionais]", disse Fernando Aveiro no parlamento regional, em audição na Comissão de Inquérito ao Funcionamento da Unidade de Medicina Nuclear, vincando que as declarações de Rafael Macedo não têm "qualquer fundamento".
"Onde é que está a negligência? Quem é que tem negligência? Negligência é não saber nada", disse.
Na quarta-feira, o coordenador da Unidade de Medicina Nuclear pública, Rafael Macedo, disse na comissão de inquérito que "alguns colegas são negligentes", quer no setor público como no privado, acusando-os de fornecerem tratamentos que "não são adequados", apontando ainda deficiências nas fichas clínicas e no registo de doentes.
Rafael Macedo reafirmou que o serviço público continua a encaminhar utentes para o serviço privado, vincando ainda que existem serviços do SESARAM que funcionam "muito mal", nomeadamente Hemato-Oncologia, Urologia e Ortopedia.
Fernando Aveiro garantiu no parlamento que, desde 2018, todos os exames de medicina nuclear da sua especialidade são feitos no SESARAM, assegurando que os dossiês clínicos "estão completos", pelo que as afirmações do coordenador da Medicina Nuclear deixaram os médicos e enfermeiros "muito desgastados".
"O serviço já foi auditado, não percebo a acusação", disse, realçando que na Hemato-Oncologia não existe lista de espera, pois o SESARAM trata o doente oncológico como "prioritário".
O responsável manifestou-se ainda "satisfeitíssimo" com a Clínica de Radioncologia da Madeira, também designada Quadrantes, que opera na região desde 2009, considerando que é uma "mais-valia" para a Madeira.
Por outro lado, também avalia de forma "bastante positiva" os exames feitos pela Unidade de Medicina Nuclear do SESARAM.
Fernando Aveiro explicou ainda que, entre 2017 e 2018, os gastos do SESARAM com medicamentos para o cancro aumentaram 22% e revelou dados do Instituto Nacional de Estatística referentes a 2017 em que a taxa de mortes por tumores malignos por 100 mil habitantes é de 2,3% na Madeira, uma das mais baixas do país.
"O SESARAM, na área oncológica, está dotado de capacidade e organizado para fazer um excelente trabalho", afirmou.
A Comissão de Inquérito ao Funcionamento da Unidade de Medicina Nuclear ouviu também esta tarde o diretor do Serviço de Endocrinologia do SESARAM, Silvestre Abreu, que classificou as declarações do coordenador da Medicina Nuclear de "inverdades" e de "alarmismo desonesto", sobretudo no que toca à negligência dos colegas.
Silvestre Abreu disse, no entanto, que dá um "certo desconto", apontando para eventuais "distúrbios" de Rafael Macedo, que crê vão ser avaliados pela Ordem dos Médicos.
Na sequência da audição a Rafael Macedo, o SESARAM decidiu "suspender hoje os exames de forma a que estejam reunidas todas as condições para a serenidade da prestação" dos serviços de Medicina Nuclear, uma unidade que opera desde 2017.
A Comissão Eventual de Inquérito ao Funcionamento da Unidade de Medicina Nuclear do Serviço de Saúde da Madeira (SESARAM) foi constituída a pedido da maioria social-democrata, na sequência uma reportagem da TVI transmitida em fevereiro.
A investigação jornalística concluiu que o Hospital do Funchal encaminhava pacientes para fazer exames de medicina nuclear na clínica Quadrantes, enquanto a sua própria unidade, inaugurada em 2013 e certificada em 2017, estava "praticamente parada".
LUSA