Criada em 2007 pelo grupo Secil, a Allmicroalgae Natural Products começou por ser um projeto para sequestrar dióxido de carbono (CO2) da indústria cimenteira. Mas a investigação desenvolvida acabou por levar à opção de avançar para a construção de uma unidade industrial destinada à produção de microalgas à escala global.
“Rapidamente se percebeu que esta ideia da mitigação de CO2 não iria além da prova de conceito”, explicou Joana Silva, bióloga responsável pelo departamento de Investigação e Desenvolvimento da Allmicroalgae, sustentando que nas indústrias cosmocêutica, farmacêutica, nutracêutica e alimentar “os requisitos de certificação são muito exigentes”, o que levou a empresa “a recorrer a um CO2 que é ‘food grade’, que é certificado”, para se conseguir estabelecer no mercado.
Em 2013, a Allmicroalgae iniciou a produção industrial de microalgas, sobretudo a Chlorella vulgaris (ainda hoje a mais produzida), e dois anos depois tornou-se numa unidade independente, investindo em tecnologia e na expansão do portfólio de produtos para cerca de 60 espécies.
“Por essa altura investimos numa tecnologia nova: a fermentação, que é relativamente ‘itech’ [tecnologicamente avançada] quer em Portugal, quer neste tipo de indústria, e começámos a produzir num modo de operação que nos deu grande capacidade produtiva”.
A empresa do distrito de Leiria também atualmente “cultivo em sistema aberto”, o que lhe permite ser mais competitiva a nível internacional.
O processo inicia-se num banco de cultura de células de microalgas que são depois transferidas para reatores de fermentação e, numa segunda fase, para um reator tubular industrial (a céu aberto) que totaliza atualmente 320 quilómetros de tubagens, estando a ser construídos mais 27 quilómetros.
Numa construção linear “daria, no total, para ligar Pataias ao Algarve,” disse à Lusa Manuel Pinheiro, engenheiro na empresa, explicando que nos tubos são movimentados, por hora, 18.000 metros cúbicos de culturas de microalgas.
As microalgas passam depois para grandes depósitos de pasteurização, após o que são sujeitas a um processo de centrifugação e, por último, a secagem, sendo comercializadas em pó ou em pasta.
Noutros pontos da empresa está também a ser feita a produção de microalgas em lagoas abertas, com destaque para a produção de spirulina.
Com 90% a 95% da produção dirigida para a exportação, a empresa – cuja capacidade produtiva “tem vindo a aumentar” – prevê comercializar este ano entre 56 e 60 toneladas e, segundo Joana Silva, pretende atingir no próximo ano as 100 a 120 toneladas.
“O volume de negócios também tem crescido proporcionalmente à nossa capacidade produtiva”, afirmou a responsável. A empresa – que opera numa “indústria difícil”, lidando com “uma ciência muito dura”, e que já passou por “momentos menos bons” – espera atingir “finalmente o ‘break even’ [ponto de equilíbrio] e chegar aos dois milhões de vendas, coisa que até hoje ainda não tinha sido possível”.
Primordial para o crescimento tem sido, segundo Joana Silva, “a inovação, que tem que estar sempre presente” na visão da empresa. Por isso, aposta-se em “pelo menos uma vez por ano ter uma novidade”, quer no que toca à indústria alimentar, quer no mercado da alimentação animal e da agroindústria.
Exemplo disso é o projeto que a Allmicroalgae está a desenvolver com uma empresa de rações para entrar “na escala de valor, por exemplo, do porco”, tentando “com dados reais, como animais ‘in vivo’, demonstrar que as algas têm um efeito benéfico”.
Esse tem sido o compromisso da empresa, que conta atualmente com mais de 40 trabalhadores e mestrandos dedicados a projetos de investigação. O objetivo é “ir para além do estado da arte”, focando-se na funcionalidade das microalgas “para comprovar ao cliente que vale a pena investir nesta matéria”, sublinhou a bióloga.
A empresa – que estará representada na Conferência dos Oceanos das Nações Unidas marcada para 27 de junho a 01 de julho, em Lisboa, através da associação Proalga – assume igualmente um compromisso “inequívoco com o mar”, destacando a importância das microalgas na alimentação dos peixes e na qualidade dos oceanos, entre os muitos benefícios desta matéria-prima que quer dar a conhecer internacionalmente.