Embora o lado da oferta tenha sido menos impactado por medidas de confinamento, comparativamente aos meses anteriores, a crise energética, desencadeada por ondas de calor prolongadas no sudoeste e sul do país, e os esforços do Ocidente para reorganizar as cadeias industriais, constituem obstáculos para as indústrias chinesas, apontam analistas.
De acordo com os dados oficiais divulgados hoje pelo Gabinete Nacional de Estatísticas chinês (GNE), o lucro combinado das empresas industriais chinesas com faturamento anual acima dos 20 milhões de yuans (cerca de 2,9 milhões de euros) caiu 1,1%, em termos homólogos, para 4,9 biliões de yuans (712 mil milhões de euros), nos primeiros sete meses de 2022.
Em julho, os lucros fixaram-se em 622,7 mil milhões de yuans (90,5 mil milhões de euros), uma queda homóloga de 12% e o valor mensal mais baixo desde julho de 2020. Comparativamente a junho, a queda ascendeu a quase 25%.
“A China enfrenta altos níveis de custo, procura de mercado insuficiente para alguns setores e crescente pressão operacional, à medida que o ambiente doméstico e internacional se tornou mais complexo e grave”, apontou Zhu Hong, funcionário do GNE, em comunicado. “Ainda é necessário muito trabalho para alcançar uma recuperação estável da economia industrial”, acrescentou.
Dos 41 setores incluídos no inquérito, 25 registaram uma queda no lucro. A indústria do aço foi a mais afetada, com os lucros das siderúrgicas a caírem quase 81%, em termos homólogos, nos primeiros sete meses do ano.
Os setores de materiais de construção também foram duramente atingidos por uma grande queda no mercado imobiliário.
A mineração de carvão e as produtoras de energia tiveram um bom desempenho, com os lucros a duplicar, em relação ao mesmo período do ano passado.
Isto ocorreu numa altura em que ondas de calor extremo aumentaram a procura por eletricidade, levando Pequim a pedir o aumento da produção de carvão, já que os apagões causaram o encerramento de fábricas em áreas do sudoeste do país.
Os números foram particularmente maus entre as empresas de capital estrangeiro e privadas.
Enquanto as empresas industriais estatais relataram um aumento dos lucros de 8%, para 1,74 biliões de yuans (253 mil milhões de euros), nos primeiros sete meses de 2022, o lucro líquido das empresas financiadas por capital estrangeiro caiu 14,5%, para 1,09 biliões de yuans (145 mil milhões de euros). Entre as empresas privadas, os lucros das fábricas caíram 7,1%, para 1,3 biliões de yuans (189 mil milhões de euros).
Pequim acelerou o investimento em infraestrutura e a emissão de títulos de dívida desde o início deste ano, para evitar a estagnação económica, mas essas políticas geralmente beneficiam os atores estatais.
O lucro líquido das empresas do setor ferroviário, navios e outros equipamentos de transporte aumentou mais de 29%, no mês passado, enquanto o setor elétrico e de maquinaria teve ganhos de 25,6%.
Mas os analistas acreditam que a queda geral nos lucros vai persistir.
“Tanto o preço quanto a produção vão continuar a reduzir os lucros industriais”, escreveu o analista da Hongta Securities, Yin Yue, numa nota.
“A taxa de utilização da capacidade de algumas indústrias está a diminuir por causa da epidemia, altas temperaturas e cortes de energia”, observou.
No início deste mês, o banco central da China cortou as principais taxas de empréstimo em 10 pontos base e reduziu a taxa básica de empréstimos de cinco anos em 15 pontos base, visando injetar liquidez na economia.
Lusa