O presidente do Turismo de Portugal, Luís Araújo, disse hoje no parlamento que a possível desvalorização da libra esterlina no âmbito do ‘Brexit’ é a "grande preocupação do destino Portugal".
"A questão da libra é a grande incógnita e indefinição com que temos de viver", admitindo que a sua possível desvalorização no âmbito do ‘Brexit’ (saída do Reino Unido da União Europeia) "é a grande preocupação do destino Portugal" para o setor do turismo, disse Luís Araújo na Assembleia da República, em Lisboa.
"Com a diminuição da procura, há aqui uma questão de competitividade. E quando sentimos esta desvalorização da libra, os britânicos optam por outros mercados", disse o o responsável pelo Turismo de Portugal numa audição conjunta das comissões de Assuntos Europeus e de Economia, Inovação e Obras Públicas, no parlamento.
Relativamente a medidas tomadas pelo Turismo de Portugal no mercado britânico, Luís Araújo salientou o "reforço da delegação" no Reino Unido, bem como reforços "na formação, principalmente na segmentação para outras áreas de mercado".
No final da sua intervenção de abertura, o responsável disse ainda que a campanha de boas-vindas a turistas britânicos ‘Brelcome’, dada a conhecer na sexta-feira, tinha já atingido quatro milhões de pessoas no Reino Unido, através de canais ‘online’.
Nas intervenções dos partidos, o deputado do PSD Cristóvão Norte também salientou este fator como determinante, dizendo que para além da já verificada "desvalorização da libra em 16%", não se está "à margem de uma muito mais significativa".
"Se tivermos uma desvalorização da libra na ordem dos 30% ou 40%, obviamente que não são apenas as decisões de férias que se vão retardar, mas é sobretudo a opção de fazer férias" por parte de cidadãos britânicos, alertou.
Face aos números apresentados pelo Turismo de Portugal na audição, que davam conta de que 64% dos turistas britânicos em Portugal optam pelo Algarve e de 21% pela Madeira, o deputado relevou ainda a "dependência" que estas regiões têm face ao turismo.
"Aquando da última crise severa, estas foram duas regiões que foram afetadas de forma muito particular por força da desaceleração turística", lembrou o deputado eleito pelo círculo de Faro, o que no seu entender "contribuiu para uma perda de emprego e do modelo económico e social" das regiões.
O deputado criticou ainda o tempo que as preparações do Governo e das suas instituições levaram a agir no âmbito do ‘Brexit’, comparando a sua ação a "um calhambeque em hora de ponta" durante dois anos, e um "Ferrari sem travões numa pista de Fórmula 1" agora.
Em resposta, o presidente do Turismo de Portugal disse que a entidade a que preside, sem "esconder ou esquecer" o Reino Unido, está a "ter uma estratégia de diversificação de mercados", nomeadamente nos Estados Unidos, Canadá, Brasil ou China, que estão a enviar turistas "para outras regiões que antes nem eram consideradas, como Porto, Algarve ou Madeira".
Luís Araújo disse ainda que o investimento do Turismo de Portugal não se cinge à campanha ‘Brelcome’, adiantando que na Madeira e no Algarve houve um investimento de 1,0 milhão de euros, referindo o congresso da ABTA (Associação de Agentes de Viagens Britânicos) da Madeira em 2020.
No final da audição, a deputada eleita pela Madeira Rubina Berardo (PSD) disse que Luís Araújo tinha dito uma "inverdade" sobre este congresso, referindo que "ainda nem está formalizado", que a candidatura foi do Governo da Região, e que o Turismo de Portugal "não adiantou nem um cêntimo nem para a Madeira nem para o Algarve por causa do ‘Brexit’".
Relativamente aos preparativos para o ‘Brexit’, o responsável disse foram começados "desde que soube do resultado" do referendo" e, mais tarde, em resposta ao deputado do CDS-PP Filipe Anacoreta Correia, Luís Araújo disse que a primeira reunião que teve com o Governo foi "no dia seguinte à votação, com a secretária de Estado do Turismo [Ana Mendes Godinho]".
"Estamos a falar de cerca 20% da quota de mercado [de turistas], é demasiado importante para não prestarmos atenção", garantiu o presidente do Turismo de Portugal.
Por sua vez, a deputada do BE Isabel Pires referiu que "o turismo é uma atividade económica que tem impactos menos positivos", nomeadamente em cidades, e que o ‘Brexit’ "poderia ser uma oportunidade para o Turismo de Portugal diversificar o mercado, mas também o tipo de turismo que é oferecido", algo que Luís Araújo não comentou.
Na quarta-feira, o ministro da Economia, Pedro Siza Vieira, já tinha adiantado que a campanha ia ser lançada para que o mercado turístico britânico visse Portugal como o destino europeu "mais amigável".
"O mercado britânico é muito significativo para Portugal. É o mercado que mais turistas gera para o nosso país, com uma presença particular muito significativa no Algarve e na Madeira e, por isso, estamos ao mesmo tempo a fazer uma campanha intensa de promoção de Portugal – estamos a contactar os operadores turísticos e as agências de viagens dando conta das condições que temos – e vamos na próxima semana lançar uma campanha dirigida ao mercado do Reino Unido para mostrar aquilo que Portugal tem para oferecer", disse.
Além disso, acrescentou, Portugal está "a tentar assegurar que a experiência do turista britânico seja a mais normal possível".
"Vamos acolher os turistas sem necessidade de vistos de entrada, vamos manter canais abertos nos aeroportos para que possam seguir sem interrupções, vamos manter o acesso aos canais eletrónicos de passaportes também disponíveis para os turistas que venham apenas para Portugal, vamos continuar a proporcionar o acesso ao Serviço Nacional de Saúde e ao transporte de animais de companhia. Tudo será criado para que os turistas do Reino Unido não sintam, apesar da saída do Reino Unido da União Europeia [‘Brexit], qualquer alteração na experiência que tenham em Portugal", lembrou o ministro.
Na sexta-feira, a Standard & Poor’s (S&P), aquando a subida do ‘rating de Portugal, considerou que o Governo português tomou as medidas adequadas no que ao turismo diz respeito, um dos principais motores da economia, em caso de ‘Brexit’ sem acordo.
“As autoridades portuguesas tomaram as medidas adequadas para, pelo menos, atenuar os efeitos de um potencial ‘Brexit’ sem acordo no turismo, um dos principais motores do crescimento e da resiliência da balança de pagamentos desde 2012”, afirmou a agência de notação financeira.
LUSA