"Isto foi tudo feito nas costas das pessoas, em ‘timings’ acertados, e mais uma vez vêm os obrigacionistas do Banif Finance a saber que foram prejudicados com todas estas negociatas", disse Jacinto Silva em declarações à Lusa, que exige saber quem foi responsável por este negócio.
De acordo com o responsável, o Santander Totta adquiriu este ativo importante do Banif Finance, já pós resolução e poucos meses antes deste último entrar em liquidação pela quantia de 90 mil euros, num negócio que apenas foi conhecido a 18 de maio, com a publicação do Relatório e Contas consolidado de 2016 do banco, onde a instituição financeira indica ser dona da totalidade daquele ativo.
O ativo em questão (participação acionista privilegiada no Banif International Bank, a entidade bancária sediada nas Bahamas que foi vendida ao Santander à data da resolução do ex-Banif) valia 18,3 milhões de euros, de acordo com o último Relatório Financeiro de junho 2015, disse Jacinto Silva.
"Ou seja, a compra daquele ativo do Banif Finance pelo Santander Totta fez-se por menos de 1% do seu valor real", disse.
Depois de ter já solicitado à bolsa de Luxemburgo uma explicação sobre este negócio e "dada a relevância e gravidade da questão em causa", a Alboa vai pedir uma audiência ao Banco de Portugal, assim como ao Ministério das Finanças, tendo em vista também ter acesso ao documento de formalização da venda em causa.
"Com esta venda ao Santander Totta os lesados do Banif perdem efetivamente, mais uma vez, uma parte importante dos ativos que poderiam responder pelos seus créditos", lamentou ainda Jacinto Silva.
A Alboa representa 3.500 obrigacionistas subordinados que perderam 263 milhões de euros no processo de venda do banco ao Santander, bem como 4.000 obrigacionistas da Rentipar (‘holding’ através da qual as filhas do fundador do Banif, Horácio Roque, detinham a sua participação), que investiram 65 milhões de euros, e ainda 40 mil acionistas, dos quais cerca de 25 mil são oriundos da Madeira.
O Santander Totta adquiriu o Banif por 150 milhões de euros em dezembro de 2015, na sequência de uma resolução do Governo da República e do Banco de Portugal, através da qual foi criada a sociedade-veículo Oitante, para onde foi transferida a atividade bancária que o comprador não adquiriu.
No passado dia 28 de março, no decorrer de uma visita que efetuou à Madeira, o primeiro-ministro, António Costa, afirmou que ainda não havia nenhuma solução para resolver o problema dos lesados do Banif, visto que a CMVM não reconheceu a existência de "práticas indevidas" na venda de produtos do banco.
"Esta é uma situação em que, ao contrário do que aconteceu na situação do BES, ainda não houve por parte da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários um reconhecimento de práticas indevidas na venda dos produtos, o que limita muito, da parte do Estado, a possibilidade de encontrar mecanismos como aqueles que temos relativamente aos lesados do BES", afirmou então António Costa.
O governante fez estas declarações após uma reunião com os dirigentes da Alboa, que decorreu na Quinta Vigia, sede da presidência do Governo Regional da Madeira.
"A solução ainda não existe. Temos de continuar a trabalhar para que ela possa existir", disse António Costa, vincando que se trata de uma "matéria muito difícil", em relação à qual há registo de "situações verdadeiramente dramáticas" e casos de pessoas que "manifestamente foram enganadas".