O 8.º Festival de Órgão da Madeira abre hoje, na Igreja do Colégio, no Funchal, com o programa "Um órgão, dois organistas", por João Vaz e Filipe Veríssimo, que vai do Portugal quinhentista à Alemanha de Bach.
O programa está feito à medida do órgão da igreja, construído pelo mestre Dinarte Machado em 2008, propositadamente para dar resposta à tradição ibérica da música para órgão, que remonta ao Renascimento, e, em simultâneo, às exigências técnicas da escola norte-alemã, em que se distinguiram compositores como Dieterich Buxtehude e Johann Sebastian Bach (séculos XVII/XVIII).
A parte inicial do concerto conta com obras de António Carreira (século XVI) e Diogo da Conceição (século XVII), seguindo-se, numa sequência cronológica, o barroco intermédio de Buxtehude e a síntese tardia de Bach, duas figuras-chave da história da música para órgão, como destaca a organização do festival.
O concerto termina com obras de dois compositores ibéricos da viragem do século XVIII para o século XIX, o português Marcos Portugal e o espanhol Ramón Ferreñac. Deste, será interpretada uma sonata menos comum, escrita para dois organistas.
O diretor artístico do Festival, João Vaz, disse à Lusa que o certame "apresenta uma programação singular", que visa "explorar as diferentes potencialidades do órgão" e integrar o instrumento nas "mais variadas formações vocais ou instrumentais".
O recém-inaugurado órgão da Sé do Funchal, também construído pelo mestre organeiro Dinarte Machado, faz parte da programação.
No próximo domingo, precisamente na Sé, é exibido o filme "A Paixão de Joana d’Arc" (1927), de Carl Dreyer, com uma banda sonora improvisada ao órgão, por Karol Mossakowski.
Além do Funchal, o festival acontece nos concelhos de Machico, na Igreja de N.S. da Conceição, e de Ponta do Sol, na Igreja de N.S. da Luz.
Entre os músicos participantes, destaca-se o organista britânico William Whitehead, que apresenta, na Igreja do Colégio, no próxima dia 23, uma seleção do "Orgelbüchlein Project" ("Projeto dos livros para órgão", em tradução livre), que conjuga a obra de Johann Sebastian Bach, à produção de compositores contemporâneos.
William Whitehead, nascido em 1970, em Londres, apresenta ainda, no dia 25, na Igreja de Santa Luzia, um recital dedicado à tradição organística inglesa.
João Vaz realçou igualmente a participação do holandês Jan Willem Jansen, com dois recitais em que "explora a ligação entre órgão e a literatura", contando com a participação do declamador António Plácido.
Estes recitais de Jansen e Plácido realizam-se no dia 27, no Convento do Bom Jesus, e, no dia seguinte, na Igreja de Santa Luzia, na Ponta do Sol.
O neerlandês Jan Willem Jansen, professor no Conservatório de Toulouse, apresenta ainda um recital sobre o "incontornável" compositor Johann Sebastian Bach (1685-1750), num concerto com a Orquestra Clássica da Madeira, sob a direção do maestro Norberto Gomes, que acontece no dia 28, na Igreja do Colégio.
Outro compositor que é "figura central" deste festival é o português Manuel Rodrigues Coelho (1555-1635), do qual será interpretada, na íntegra, a recolha "Flores de música" (1620), num concerto que encerra o festival, no dia 29, no Convento de Santa Clara, pelo organista André Ferreira, acompanhado pelo Ensemble São Tomás de Aquino, sob a direção musical de João Andrade Nunes.
LUSA