“Deve haver mais promoção da cultura e de tudo. Quem nasceu na Venezuela e até mesmo que não viaja lá [a Portugal] com frequência conhece apenas algumas coisas de Portugal, mas deveríamos conhecê-lo mais”, disse uma lusodescendente à Lusa.
Maria José Nunes, publicista e radialista, está orgulhosa das suas raízes, mas com alguma tristeza disse que “entente tudo, mas não fala” português.
“No meu caso, Portugal é a minha segunda terra, porque a primeira é a Venezuela, onde nasci, mas tive a experiência de passar alguns meses em Portugal, porque fique ‘varada’ [impedida de regressar] por causa da pandemia [de covid-19]. Além do Funchal, apaixonei-me por Portimão, Lisboa e Portugal, que até então não conhecia”, explicou.
Por outro lado, o luso-venezuelano Serafín de Abreu, produtor do espaço radiofónico “Com Sabor a Portugal”, transmitido aos fins de semana pela rádio Altos 107.1 FM, explicou à Lusa, que na região vivem “mais de 30 mil portugueses” principalmente dedicados à agricultura e ao comércio.
“Nós, que nascemos aqui, não temos a história viva [experiência de vida] desse grande país que é Portugal. Muita gente, por exemplo, não sabe que Luís de Camões não tinha um olho. Nós, os lusodescendentes levamos Portugal no coração mesmo sem saber muito [sobre ele]”, afirmou.
Segundo Serafín de Abreu, “há muitos venezuelanos que querem conhecer Portugal” e no seu caso “a rádio é um meio para divulgar a cultura”.
A cultura portuguesa, segundo a corretora de seguros lusodescendente Reina Abreu, gera muita curiosidade e paixão tanto entre luso-venezuelanos como entre a população local.
A estudar a língua portuguesa numa escola local, criou, com as colegas, um grupo que se propõe conhecer a fundo os poetas portugueses, entre eles Camões e Fernando Pessoa.
“O grupo chama-se as Bruxas de Camões. Chama-se assim porque todas as mulheres são bruxas, no bom sentido. Somos umas bruxas modernas, temos interesse em conhecer as nossas raízes, a culturas dos nossos pais. Lutamos pela democracia e pela união dos povos”, explicou.
O diretor da rádio Altos 107.1 FM, o venezuelano Luís Enrique Gómez, explicou que no domingo compartilhou “um dia maravilhoso” com os portugueses que celebraram localmente o Dia de Santo António, e também o Dia Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas.
“Deveríamos abrir-nos um pouco mais a essa cultura, conhecer as tradições e os portugueses que chegaram à Venezuela e conhecem os nossos costumes. Deveriam fazer promoção turística [de Portugal], para que possamos viajar, conhecer-nos e compartilhar”, frisou.
A venezuelana Mile La Cruz, representante da comunidade san-antonina local, está “honrada” de ter os “irmãos portugueses” na Venezuela.
“Podemos fortalecer esses laços entre ambos os países e compartilhar as culturas que nos caracterizam. Agrademos à comunidade lusitana que se encontra no país por vir trabalhar duro, dar-nos a sua empatia, amor e dedicação à família”, concluiu.