O escritor Herberto Helder, falecido em março, vai ser alvo de uma homenagem no Cinema Medeia Monumental, em Lisboa, hoje, que inclui a exibição de dois filmes e a leitura de poemas.
Segundo a exibidora Medeia Filmes, o programa especial sobre a relação de Herberto Helder (1930-2015) com o cinema tem como título "Memória, montagem", vindo do próprio texto do poeta, incluído no livro "Photomaton & Vox", e decorre a partir das 21:00, começando pela intervenção "Uma espécie de Cinema das Palavras", pela ensaísta Rosa Maria Martelo, autora do livro "Cinema da poesia".
"Photomaton & Vox", que Herberto Helder publicou em 1979, expõe uma relação estreita do poema com a imagem e o cinema, em particular. "Qualquer poema é um filme", escreve o poeta nesta obra.
O programa "Memória, montagem" inclui ainda a leitura de poemas de Herberto Helder, pelo ator e encenador Diogo Dória e pelo jornalista da Antena 2 Luís Caetano.
De seguida, será projetada a curta-metragem "As deambulações do Mensageiro Alado", de Edgar Gonsalves Preto, produzida em 1969, na qual surge Herberto Helder, que mimetiza títulos de algumas das suas obras, num contexto em que é posta em causa a sociedade portuguesa da época, sob a ditadura.
Segue-se a projeção de "Dois vultos na Paisagem" ("Figures in a Landscape"), filme de Joseph Losey, centrado na fuga de dois prisioneiros, sobre o qual escreveu o poeta.
"Em ‘Figures in a Landscape’, de Losey, quase se não dá por nada. Mas é-se atingido em cheio. Percebe-se tudo: a nossa mesma agonia. Por exemplo: como a fluidez pode ser cruel", escreve Herberto Helder, no texto "Memória, montagem", do livro "Photomaton & Vox", publicado pela Assírio & Alvim (1979/87).
Herberto Hélder Luís Bernardes de Oliveira nasceu a 23 de novembro de 1930, na freguesia do Monte, no Funchal, e viria a falecer em casa, em Cascais, no passado dia 23 de março, aos 84 anos.
Avesso ao mediatismo literário, Herberto Helder, considerado um dos mais importantes autores da poesia portuguesa, deu a última entrevista em 1968 e recusou o Prémio Pessoa em 1994.
"A morte sem mestre" foi o último livro de originais do poeta, publicado em junho de 2014, pela Porto Editora.