No dia 13 de março de 2022 foi encontrada, na Praia das Bicas em Sesimbra, uma embarcação de alta velocidade com ligações prováveis ao narcotráfico. A embarcação arrojada, de construção integral em fibra de vidro e quilha reforçada, encontrava-se muito danificada, estando o casco estruturalmente integro.
Dos quatro motores fora de borda que a equipavam, dois teriam sido perdidos e os outros dois encontravam-se inoperacionais e irrecuperáveis. Devido ao estado de condição do casco, e tendo sido demonstrado interesse na sua utilização, a embarcação foi declarada perdida a favor do Estado e diligenciada a sua entrega, por despacho do Magistrado do Ministério Público.
No sentido de capacitar a Guarda-costeira de São Tomé e Príncipe, com o apoio à fiscalização marítima conjunta e contribuindo para um reforço significativo da segurança marítima, nas águas de São Tomé e Princípe e do Golfo da Guiné, a Célula de Inovação e Experimentação Operacional de Sistemas Não Tripulados (CEOV) da Marinha Portuguesa, desenvolveu em parceria com o Centro de Manutenção da Autoridade Marítima Nacional (CM AMN) um projeto que visou a total recuperação e uma profunda reconversão desta EAV.
A sua recuperação visou, entre outras ações, a reparação estrutural do casco; o reforço da sua flutuabilidade, com recurso a espuma especial de célula fechada; a instalação de novos motores fora de borda; a total reconfiguração de cablagem eletrónica; do sistema de baterias e a instalação de bancos, que permitam acomodar em segurança todos os tripulantes. Foi, também, instalado um sistema de comunicações por satélite, uma cobertura em lona impermeável, que permite proteger a guarnição e equipamentos da exposição solar, bem como para proteção balística e a possibilidade de ser montada uma metralhadora MG3 à proa.
Todo este ambicioso projeto foi planeado, desenvolvido e executado pelo CEOV e pelo CM AMN, numa clara evidência das capacidades próprias de projeção e fabrico por parte da Marinha e da Autoridade Marítima Nacional.
Após uma profunda reconversão, a EAV foi batizada de Príncipe e possui um comprimento de 12, 8 metros, 2,7 metros de boca (largura máxima), velocidade máxima de 55 nós e uma autonomia de 400 milhas náuticas a 30 nós. Terá uma guarnição de 10 elementos, constituída por fuzileiros portugueses e militares da Guarda Costeira de São Tomé e Princípe, reforçando o dispositivo da Marinha Portuguesa nesse país, constituído atualmente pelo NRP Centauro.
Com esta EAV, para além do reforço de mais um meio para a missão de fiscalização marítima e busca e salvamento, a Marinha Portuguesa, passa a dispor de uma embarcação com as capacidades offshore para intervenções rápidas de apoio ao Destacamento de Ações Especiais dos Fuzileiros, que, por exemplo, podem saltar de paraquedas em pleno mar, exponenciando este tipo de operações contra todo o tipo de crime marítimo na região.