“O MNE tem conhecimento de 40 cidadãos portugueses, que se encontram nas regiões de Cusco, Arequipa e Aguas Calientes (Machu Picchu), retidos devido ao encerramento dos aeroportos e da circulação rodo e ferroviária”, avança o ministério em comunicado, garantindo que “todos os cidadãos assinalados se encontram em segurança” e em contacto permanente com as autoridades.
Entre os 40 portugueses estão dez jovens que viajaram na última semana para o Peru: Sete estão em Arequipa enquanto o outro grupo de três jovens está em Aguas Calientes, segundo relatos dos pais dos jovens à Lusa.
A Embaixada de Portugal em Lima tem “realizado diligências junto das autoridades peruanas” assim como está em contacto com os portugueses e respetivas famílias, para conseguir retirar os portugueses do país, acrescenta o MNE.
O encerramento dos aeroportos peruanos, assim como a interrupção da circulação rodo e ferroviária, está a impedir o regresso a Portugal, segundo relatos dos pais que dizem que os jovens estão em segurança.
O Ministério dos Negócios Estrangeiros está precisamente a apelar para “que os cidadãos portugueses no Peru evitem deslocações terrestres”: “Desaconselham-se as viagens não essenciais no e para o Peru”, refere em comunicado divulgado hoje.
A Lusa falou com os pais dos dois grupos de jovens que se encontram retidos em Arequipa e Aguas Calientes. Todos estes dez jovens eram colegas do curso de medicina – uns da Universidade de Coimbra e outros de Lisboa – que tinham terminado o exame nacional e decidiram viajar até à América Latina.
O grupo de sete começou a viagem pelo Brasil, no Rio de Janeiro, tendo seguido depois para o Peru, onde está retido num hotel na segunda maior cidade, Arequipa.
“Eles estão presos num hotel em Arequipa, onde chegaram com muita dificuldade. Na noite de sábado ficaram retidos quando seguiam na estrada Pan Americana em direção a Cusco. Seguiam num autocarro, onde ficaram durante 50 horas porque as estradas foram cortadas por manifestantes”, disse à Lusa Paula Rodrigues, a mãe de um desses jovens de 24 anos.
O grupo já deveria ter regressado a Portugal, mas continua retido a cerca de 1.200 quilómetros da capital, de onde tinha o voo de regresso marcado para quarta-feira à tarde.
O grupo de três jovens, também recém-licenciados em Medicina, está retido em Aguas Calientes, uma pequena aldeia perto de Machu Picchu.
A mãe de uma das raparigas, Paula Casimiro, contou à Lusa que o grupo chegou ao Peru na passada quinta-feira, depois de uma semana de férias na Colombia.
“Hoje deveriam estar a viajar de regresso para a Colômbia, para depois apanharem o avião da Colômbia para Portugal, mas estão retidos”, contou a mãe da jovem de 23 anos.
Quando chegaram ao Peru, tiveram de alterar os planos da viagem devido à instabilidade no país, tendo seguido para Cusco.
“Na terça-feira apanharam um comboio no meio das montanhas e quando chegaram a Machu Picchu disseram-lhes que já não iriam sair dali, porque não havia comboio de regresso. Ontem foram informados que os comboios estão suspensos indefinidamente. Eles não sabem quando irão reabrir as ligações, sendo que não há outra forma de sair daquele sítio”, contou.
Os três jovens estão num hotel, juntamente com mais de 700 turistas também na mesma situação.
Paula Casimiro diz que “naquele sítio a situação está calma” e que o maior problema é não conseguirem sair dali porque as ligações estão cortadas e temerem “que possam vir a faltar alimentos ou outros bens de primeira necessidade”.
Uma vez que existem outros cidadãos da União Europeia no Peru, em idêntica situação, “está em curso a articulação com os representantes diplomáticos dos demais países da UE no Peru, bem como com o chefe da Delegação da União Europeia em Lima”, explica o MNE.
De acordo com o portal do Ministério dos Negócios Estrangeiros, em 2020 estavam registados na embaixada de Portugal em Lima 242 cidadãos portugueses.
Na quarta-feira, o governo da nova chefe de Estado do Peru, Dina Boluarte, decretou o estado de emergência em todo o país, por um período de 30 dias, "para controlar atos de vandalismo e violência cometidos nas manifestações de protesto" contra a destituição do ex-presidente Pedro Castillo.
O ex-presidente foi detido na quarta-feira passada por guarda-costas quando se dirigia à embaixada do México para solicitar asilo político. É acusado de “rebelião” e na quinta-feira o Supremo Tribunal ordenou, a pedido do procurador-geral, que permanecesse em detenção provisória por sete dias.