“Para quem foi ministra da Saúde num período tão duro como aquele que tivemos que enfrentar naqueles primeiros dois anos da pandemia, por maioria de razão eu percebo que alguém estabeleça como uma linha vermelha a existência de falecimentos num processo que decorre em serviços que estão na sua tutela”, respondeu António Costa aos jornalistas após declaração à comunicação social sobre a demissão de Marta Temido, no pátio do palacete de S. Bento.
O primeiro-ministro foi questionado sobre se este pedido para sair do Governo estava relacionado com a morte de uma grávida que foi transferida do Hospital de Santa Maria para o Hospital São Francisco Xavier, tendo admitido que este caso “tenha sido uma gota de água”.
“Quanto ao horário, é simples. Foi a hora a que conseguimos falar, a hora a que eu consegui falar com o senhor Presidente da República porque não íamos tornar a notícia pública sem que previamente fizesse, como é devido, uma informação ao senhor Presidente da República”, respondeu, quando interrogado sobre o porquê da demissão ter sido anunciada de madrugada.
Admitindo que não contava com este pedido de demissão, António Costa afirmou que “o primeiro-ministro tem de estar sempre preparado” para a ideia de que “há um membro do Governo que deixa” de o ser.
“Agora se estava a pensar que a doutora Marta Temido ia sair do Governo? Não, não estava a pensar”, assumiu.
O primeiro-ministro fez questão de sublinhar que “ser membro do Governo é muito exigente e há pastas onde é particularmente desgastante, do ponto de vista pessoal, do ponto de vista emocional, o exercício dessas funções”.
Sobre nomes para substituir Marta Temido, António Costa foi taxativo: “não, ainda não pensei no assunto”.
Além das questões de agenda que farão com que este processo de substituição não seja rápido, o chefe do executivo acrescentou que há o dossiê do diploma da criação da direção executiva do SNS.
“Era muito importante que ainda fosse a atual ministra a apresentá-lo ao Conselho de Ministros para que não tivéssemos mais atrasos na aprovação deste diploma, que é uma peça-chave no reforço do SNS. Até o Presidente da República, quando promulgou o estatuto, disse que era muito importante agora não perdermos tempo na sua implementação. Eu gostaria de não perder tempo”, justificou.
A Inspeção-Geral das Atividades em Saúde (IGAS) abriu uma investigação à morte de uma grávida que foi transferida do Hospital de Santa Maria para o Hospital São Francisco Xavier, anunciou hoje o organismo em comunicado.
“Foi determinada a instauração de uma inspeção à transferência de uma utente grávida do Hospital de Santa Maria, integrado no Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte, E.P.E., para o Hospital de São Francisco Xavier, integrado no Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental, E.P.E., por uma alegada inexistência de vaga no Serviço de Neonatologia da primeira unidade hospitalar para internar o bebé quando fosse provocado o parto”, referiu a IGAS.