O painel da primeira sessão do evento contou com a diretora de informação da Lusa, Luísa Meireles, que sublinhou que o combate à desinformação e à propagação de notícias falsas “nunca está ganho nem garantido”, referindo que as ferramentas de verificação da informação dos jornalistas devem, no contexto atual, ser também apreendidas pelos cidadãos.
“Um jornalista e um cidadão têm de ter espírito crítico e cumprir as regras: verificar as fontes”, observou a jornalista, sem deixar de associar esta área a dois fenómenos com impacto mundial nos últimos anos, concretamente, a pandemia de covid-19 e a guerra na Ucrânia.
“Depois de termos a pandemia da desinformação, agora temos a guerra da desinformação. É por causa disso que, nos tempos atuais, o jornalista tem de ser muito vigilante. E o cidadão também”, disse.
Luísa Meireles comparou a abordagem crítica à informação à compra de um produto pelos cidadãos. Sobre o trabalho desenvolvido pela agência de notícias nesta área, recordou a criação de um ‘site’ no qual estão “as notícias que vão ocorrendo sobre aspetos da desinformação”, mas também “projetos tecnológicos, outros instrumentos e um curso” proporcionado pelo CNCS.
Gustavo Cardoso, do Media Lab do ISCTE, destacou a mudança do conceito de pessoa informada, considerando que “a desinformação é um subproduto normal” da forma como as pessoas comunicam atualmente.
“Aquilo que temos hoje em dia é a pessoa que encontra informação sobre aquilo que lhe interessa e aquilo que lhe interessa pode não ser tratado por jornalistas. (…) Hoje temos uma situação em que todos nós produzimos informação”, explicou, resumindo o desafio que se coloca aos cidadãos no confronto com notícias falsas: “Temos de assumir se queremos pensar que a informação é verdadeira até prova em contrário ou falsa até prova em contrário”.
O professor universitário e investigador avisou que é necessário a sociedade "aprender a trabalhar com os recursos existentes” para lidar com a desinformação sem perder de vista a preparação do futuro.
“Já negociamos a autenticidade da informação, só não sabemos como o fazer. Isto é um projeto para a sociedade. Temos de preparar uma agenda para a sociedade. É um pacto de sociedade e geracional”, explicou.
Por último, o diretor da área de comunicações e cibersegurança do INOV INESC, Nelson Escravana, enfatizou a importância do papel da tecnologia para abordar as notícias falsas e a desinformação, defendendo que a vertente tecnológica será sempre “parte da solução” para enfrentar este problema.
“A tecnologia não se coloca numa posição de dizer ‘esta notícia é falsa’, ela dá as ferramentas para ajudar a fazer essa avaliação”, referiu, lembrando as principais fontes de informação das pessoas e a compatibilização destas com a verdade: “Acedemos à informação tipicamente através das redes sociais e isso tem uma agenda própria que não é compatível com o ‘fact-checking’, apesar de muitas destas plataformas já terem tomado medidas”.
Salientando haver ainda “um longo caminho pela frente” nesta matéria, Nelson Escravana alertou que “a rede social não está interessada em informar, está interessada em garantir tempo de antena do utilizador”, pelo que defendeu que a regulamentação da tecnologia é um aspeto essencial para o futuro.
Lusa