“A história venezuelana tem-nos ensinado, desde o século XIX, que todas as celebrações, símbolos e datas políticas que foram impostas por parcializações políticas do momento e os seus respetivos governantes, foram, sem exceção, de efémera duração”, explica o organismo num comunicado.
Para a ANH, a deliberação anunciada pelas autoridades locais trata-se de uma “imposição irrefletida”, com o organismo a defender que uma decisão desta natureza “deve ser submetida à mais ampla consulta”, nomeadamente à própria Academia Nacional de História, “por ser esta instituição uma das autorizadas para emitir um parecer fundamentado sobre o assunto, de acordo com as Leis da República”.
“Os símbolos de uma nação, estado ou município constituem representações da identidade coletiva que reforçam a pertença, construídos e elaborados ao longo da sua história como resultado de um passado compartilhado, pelo que não são a criação circunstancial de uma parcialidade política”, explica a ANH.
Segundo a Academia, “só uma compreensão pobre e limitada do nosso património histórico pode levar ao exercício banal de modificar os símbolos da fundação de uma cidade, como se se tratasse de uma prática perfeitamente compreensível de renovar o logótipo de uma marca comercial”.
“Pelo contrário, as representações simbólicas de uma cidade pertencem a um património coletivo que deve ser, por si mesmo, considerado como intangível”, sublinha.
A academia precisa que o escudo de armas da cidade de Santiago de León de Caracas foi concedido pelo rei Felipe II (de Espanha), em 1951, a pedido do procurador-geral perante a Corte, Simón Bolívar, ascendente direto de Simón Bolívar, reconhecido como o Libertador de vários países da América Latina.
“Se o símbolo do Leão no escudo da cidade de Santiago de León de Caracas pertence a todo o Distrito Metropolitano, e tem o antecedente de ter sido solicitado pelo antepassado direto do Libertador, a sua erradicação deveria ser submetida a uma consulta pública da Grande Caracas e não apenas do município do Libertador”, argumenta a entidade.
No passado dia 13 de abril, o Conselho Municipal de Libertador, o maior município de Caracas, aprovou modificar a bandeira, hino e escudo da capital da Venezuela.
Segundo a deliberação, a figura de um leão a segurar uma cruz de ouro com a Cruz de Santiago deixará de figurar na bandeira.
A nova bandeira, da autoria dos artistas Víctor Hernández e Carolina Jiménez, tem um fundo vermelho sob o qual se aprecia o céu de Caracas e a montanha Waraira Repano, mais conhecida como El Ávila, que divide a norte, a capital do Oceano Atlântico.
Um triângulo, uma estrela branca de cinco pontas sobre fundo azul e vermelho, também presentes na bandeira, simbolizam, segundo as autoridades locais, a paixão e sangue dos compatriotas.
O novo hino “Caracas vencerá”, da autoria de Noel Márquez e Manuel Barrios, destaca a luta de personagens indígenas como Apacuana, Tiúna e Carapaica.
O escudo contém as imagens do Cacique Guaicaipuro, de uma mulher afrodescendente e do "pai da pátria", o Libertador Simón Bolívar, todos a olhar para a esquerda.
Na parte superior, é visível a mensagem “Segui o exemplo que Caracas deu” e vários elementos naturais que caracterizam a cidade, incluindo folhas da “pira”, um turpial, a ave do país, e uma arara, tal como a espada de Bolívar, uma lança e a estrela vermelha de cinco pontas, para simbolizar a revolução bolivariana.
No extremo inferior, do lado esquerdo, podem ver-se as datas 1810 e 1811, o início da luta pela independência do país e a assinatura da ata da independência, respetivamente.
Do lado direito, aparece o ano de 1989, uma referência a “El Caracazo”, os violentos protestos de 1989 contra as medidas económicas aplicadas pelo falecido presidente Carlos Andrés Pérez (1974-1979 e 1989-1993).
E também o ano de 2002, em memória dos violentos acontecimentos que, em abril desse ano, afastaram temporariamente o então Presidente Hugo Chávez (1999-2013) do poder.
Os novos símbolos omitem a data da fundação da cidade de Santiago de León Caracas, em 1567, pelo espanhol Diego de Losada.