O resultado tinha chegado 72 horas depois do teste, e contrariava o resultado negativo de outro um teste feito na véspera e exigido para viajar para Faro. Rui Monteiro e a esposa são cientistas e pesaram os argumentos.
"Pensámos que era parvo ir, porque se eu estivesse mesmo positivo ia estar fechado com não sei quantas pessoas no avião e depois chegava a Portugal e teria de me isolar. Achámos que era melhor voltar para trás e pronto. Os miúdos ficaram desconsoladíssimos”, contou à agência Lusa.
A Patrícia Santos o choque de não poder viajar não aconteceu no aeroporto, mas dias antes da viagem para Portugal, cujos bilhetes estavam comprados desde outubro e os testes pré-embarque já reservados.
“Na semana passada um colega meu testou positivo à covid e nós fomos fazer no domingo o teste por descargo de consciência, pois não tinha sintomas. Eu e o meu companheiro tivemos resultado negativo, mas a minha filha de 11 anos testou positiva”, relatou.
"Estranho, mas o que se pode fazer?”, acrescentou, conformada embora desconfiada, porque nos testes rápidos continua a testar negativo.
Isa Ribeiro não tem dúvida de que estava infetada quando testou em 14 de dezembro. Por ironia, estava em teletrabalho, excecionalmente e a seu pedido, porque queria evitar contágios antes da viagem para Portugal.
“Tinha tantas coisas combinadas com amigos que normalmente só vejo nesta altura! E vou perder o aniversário da minha irmã, que é o único da família a que costumo ir porque é na altura do Natal. Custa um bocado”, confessou à Lusa esta engenheira civil natural de Coimbra.
Os três casos de portugueses afetados são apenas uma amostra da situação de agravamento da pandemia covid-19 no Reino Unido devido à nova variante Ómicron, considerada mais transmissível e que fez disparar o número de contágios nas últimas semanas.
Na quarta-feira, o país registou mais de 100 mil casos de covid-19 em 24 horas pela primeira vez desde o início da pandemia, e as previsões é que o valor continue elevado a curto prazo.
Em Portugal, o risco colocado pela nova variante do coronavírus, que está a fazer disparar as infeções na Europa, levou o Governo a declarar situação de calamidade e a apertar as medidas de contenção, incluindo nas chegadas do estrangeiro.
Desde 01 de dezembro, quando foi declarada situação de calamidade, que todos os passageiros que cheguem a Portugal por via área são obrigados a apresentar teste negativo à covid-19 ou certificado de recuperação no desembarque, independentemente de estarem vacinados.
A nova vaga da pandemia coincide com a época do Natal, quando milhares de portugueses residentes no estrangeiro regressam a Portugal para passar a família na época natalícia.
Para Rui Monteiro, após “dois anos miseráveis" e um Natal em 2020 que já tinha sido estragado pela covid-19 e celebrado a quatro em Birmingham, onde reside, estar com a família este ano foi declarada uma missão.
Por isso, logo que as regras em Inglaterra para o isolamento obrigatório mudaram em Inglaterra, na quarta-feira, reduzindo o período de dez para sete dias, voltou a repetir testes e estes confirmaram que não está infetado.
“Pesámos os prós e contras porque não é uma decisão trivial. Mas queremos mesmo estar com a família, sobretudo os miúdos com os primos”, explicou.
Acabou por marcar um voo para o dia seguinte [hoje], para chegar a Portugal antes da véspera de Natal, seis dias depois do inicialmente previsto.
Também Isa Ribeiro mantém a esperança de viajar nos próximos dias, assim que testar negativo à covid-19.
“Já vivi em Timor e no Brasil, estou aqui [em Londres] há oito anos e passei sempre o Natal em casa. Gostava de ir a 24 de dezembro e o plano C é ir a 26. Com sorte consigo antes”, disse, otimista.
Nos últimos dias tem trocado mensagens com amigos de outras nacionalidades que também foram surpreendidos com testes positivos e viram os planos estragados.
“É impossível aqui em Londres, é praticamente um desporto nacional evitar covid antes do Natal”, gracejou.
Pelo contrário, Patrícia Santos aceitou a custo que terá de ficar no Reino Unido durante a época festiva e alterou as datas dos bilhetes de avião para fevereiro.
Mas, escaldada por esta experiência, mantém algum receio que a pandemia lhe troque as voltas.
"Vamos ver. Uma loucura, é o que é esta doença”, suspirou.