"A confiança que hoje, uma vez mais, depositaram nele é uma prova sólida", afirmou o chefe de Estado, num discurso feito em inglês, em que fez questão, contudo, de saudar António Guterres em português, com "calorosas felicitações", pela sua nomeação para mais cinco anos à frente da ONU, do início de 2022 até ao fim 2026.
Neste discurso transmitido em direto pelas Nações Unidas através da Internet, Marcelo Rebelo de Sousa elogiou "o empenho destemido" de António Guterres "num multilateralismo eficaz e eficiente" e considerou que este atributo "é complementado por algo talvez mais raro e mais precioso: ele é um multilateralista compassivo".
"Para ele, colocar as pessoas no centro da sua ação não é apenas uma escolha, é um imperativo. Ele continua a tradição dos seus ilustres antecessores que encarnaram o espírito da Carta [das Nações Unidas]: conduzir as Nações Unidas ao serviço de ‘nós, os povos’", declarou o Presidente da República, referindo que conhece António Guterres "há 55 anos".
O chefe de Estado recordou que os dois estiveram "em lutas comuns" – na juventude fizeram parte de movimentos e grupos da Igreja Católica e integraram juntos a associação Sedes – e "depois em posições opostas, Primeiro-ministro e líder da oposição", na década de 1990, quando António Guterres liderou o PS e Marcelo Rebelo de Sousa o PSD.
E realçou que, no plano internacional, todos o conhecem dos seus anos como Alto Comissário para os Refugiados das Nações Unidas e do seu primeiro mandato como Secretário-geral da ONU.
Sobre a atuação de Guterres à frente da ONU desde o início de 2017, Marcelo Rebelo de Sousa destacou as "reformas nas áreas do desenvolvimento sustentável, paz e segurança e gestão", e disse que "a representação das mulheres avançou, através de uma ousada estratégia de paridade de género, que já produziu resultados, inclusive a nível sénior".
"Os direitos humanos foram mais incorporados na ação da organização, em conformidade com o ‘Apelo à Ação’ do Secretário-geral. A voz da juventude foi fortalecida. O imenso desafio da pandemia foi enfrentado de frente e foi exigido um cessar-fogo global. O seu forte apelo à vacinação dos povos de todos os países, nomeadamente os mais pobres, foi constante. E, não menos importante, o Secretário-geral tem sido uma voz de liderança na ação climática", apontou.
Segundo o Presidente da República, "Portugal decidiu submeter o seu nome para o cargo de Decretário-geral das Nações Unidas", uma segunda vez, por ter "a forte convicção de que António Guterres é particularmente adequado para o cargo e tem estado à altura das expectativas".
"Acreditamos que a visão de António Guterres, a sua persistência, a sua audácia, a sua justiça e o seu espírito solidário serão também fundamentais nos próximos cinco anos. Portugal está grato a todas as Nações aqui unidas, hoje, por reafirmarem a sua confiança no candidato que apresentámos", acrescentou.
De acordo com o chefe de Estado, "ninguém poderia ter previsto, há cinco anos, a escala exata dos desafios que o mundo e as Nações Unidas teriam de enfrentar" e António Guterres esteve à altura dessas circunstâncias exigentes.
No seu entender, agora as Nações Unidas defrontam "tempos de ainda maior incerteza" e todos devem saber que ninguém pode "enfrentá-los sozinhos" e que não se pode "deixar ninguém para trás".
Marcelo Rebelo de Sousa terminou o seu discurso enaltecendo o "trabalho notável" desta organização e indicou a recondução de António Guterres como um sinal de esperança: "Um exemplo de que podemos unir-nos, podemos ultrapassar diferenças, podemos concordar e promover o consenso, podemos unir-nos para servir os nossos povos".
Em 08 de junho, o Conselho de Segurança das Nações Unidas – do qual fazem parte 15 dos 193 Estados-membros desta organização – adotou uma resolução a recomendar à Assembleia Geral a recondução de António Guterres no cargo de Secretário-geral.
Hoje, na sede das Nações Unidas, em Nova Iorque, o antigo Primeiro-ministro português foi reconduzido pela Assembleia Geral da ONU e prestou juramento para um segundo mandato.
Em 2016, o Presidente da República assistiu também à cerimónia de juramento de António Guterres como Secretário-geral das Nações Unidas, em Nova Iorque, no dia 12 de dezembro, nessa ocasião juntamente com o Primeiro-ministro, António Costa.
O primeiro mandato de cinco anos de António Guterres como Secretário-geral da ONU iniciou-se 20 dias mais tarde, em 01 de janeiro de 2017.
A recandidatura de Guterres, para a qual o antigo Primeiro-ministro se disponibilizou no início deste ano, foi oficializada pelo Governo português em 24 de fevereiro, com uma carta assinada por António Costa endereçada aos dois órgãos da ONU.