O Exército colombiano, obedecendo à ordem do Presidente Ivan Duque, posicionou mais de mil soldados, no sábado, na terceira cidade do país, epicentro dos protestos antigovernamentais.
As ruas desta cidade com 2,2 milhões de habitantes foram palco de confrontos entre manifestantes, polícias e civis armados, na sexta-feira.
Num dos incidentes, um agente da Procuradoria de Cali disparou sobre a multidão, matando dois civis, antes de ser linchado por manifestantes.
O Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos faz o balanço de 14 mortos e 98 feridos, incluindo 54 por armas de fogo, desde sexta-feira.
"É essencial que todos aqueles que possam estar envolvidos (nestes atos de violência), que causaram ferimentos ou mortes, incluindo funcionários, sejam prontamente, efetivamente, independentemente, imparcialmente e transparentemente investigados e responsabilizados", disse a alta-comissária da ONU, Michelle Bachelet, num comunicado.
A violência ocorre exatamente um mês após os protestos de 28 de abril contra um projeto de reforma tributária, que foi rapidamente abandonado, que tinha sido apresentado pelo Presidente da Colômbia, Ivan Duque, com a proposta de aumentar o IVA e ampliar a base de incidência do imposto de renda.
Durante um mês de protestos, morreram pelo menos 59 pessoas, incluindo dois polícias, de acordo com um balanço oficial.
A organização Human Rights Watch relata que foram mortas 63 pessoas, ficaram feridas cerca de 2.300 pessoas e que 123 ainda estão desaparecidas.
Ao longo desse período, o cenário repetiu-se sucessivas vezes: durante o dia, as manifestações foram pacíficas; à noite transformavam-se em confrontos violentos e mortais.
Esta revolta sem precedentes tem atingido sobretudo as grandes cidades, onde são erguidas barricadas e onde bloqueios de estradas exasperam parte da população.
O Governo – apesar dos esforços dos mediadores responsáveis pelas negociações com o Comité Nacional de Greve – não consegue acalmar os ânimos, muito inflamados por jovens ativistas.
A tensão social no país dura há várias décadas, mas escalou a partir de 2019, um ano após a eleição que levou ao poder Ivan Duque, quando estudantes começaram a sair às ruas para reivindicar mais justiça social e melhores condições económicas.
C/Lusa