O Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (INSA) e o Instituto Gulbenkian de Ciência, que analisam a diversidade genética do Coronavírus SARS-CoV-2 em Portugal, “vão continuar muito atentos, em colaboração com as autoridades de saúde, para tentar analisar rapidamente os casos que sejam suspeitos de terem essa variante do Reino Unido”, adiantou João Paulo Gomes.
“O que vamos fazer agora, obviamente, é estar atentos a nível de testes no aeroporto, a nível de ver o historial de viagem das pessoas, estar atentos às cadeias de transmissão se essa variante aparecer, para tentar bloquear imediatamente essa cadeia de transmissão”, explicou o responsável pela unidade de bioinformática do Departamento de Doenças Infecciosas do INSA.
Segundo o investigador, as instituições vão fazer “um esforço acrescido” da análise genética do vírus que provoca a covid-19 em casos suspeitos.
Questionado se esta nova variante do Coronavírus tem uma maior transmissibilidade junto das crianças em comparação com outras estirpes, considerou ainda “ser cedo” para fazer essa avaliação.
“Não me parece que haja provas inequívocas disso. Pensamos que possa ser um fenómeno social, não mais do que isso e acima de tudo por envolver um enorme número de casos”, defendeu.
O investigador afirmou que “muitas vezes” se levantam questões que acabam depois por não se verificar: “Quando aparece uma variante que tem um espalhamento muito massivo, obviamente, observamos um muito maior número de casos”.
Ao verificar-se esse “muito maior número de casos” começa a observar-se “o atingir de faixas etárias que até aqui não estavam a ser atingidas”.
“Agora isso é causado por ser uma variante diferente ou é causado apenas por ela estar tão espalhada e afetar praticamente toda a gente que de repente vamos pensar que há determinadas faixas populacionais que agora estão a ser infetadas prioritariamente. Eu penso que é cedo para fazer essa avaliação”, vincou.
João Paulo Gomes adiantou que esta variante, que não foi detetada até ao momento em Portugal, está muito concentrada ainda no sul de Inglaterra, apesar de haver já um elevado número países que a detetaram, mas poucos casos.
Por isso, “o tempo dirá se isso é assim ou não, mas penso que é precoce estar a referir isso porque não há dados para suportar esse tipo de conclusão”.
Relativamente à previsão do aumento de casos de covid-19 a seguir ao Natal, João Paulo Gomes disse que “é perfeitamente expectável que isso aconteça”.
“Quanto andamos de máscaras estamos protegidos, quando contactamos menos com as pessoas estamos protegidos e estamos a proteger os outros”, mas quando as pessoas baixam a guarda eleva-se o risco de transmissão da doença.
No Natal, vai juntar-se “um maior número de pessoas” à mesa “sem qualquer tipo de proteção” eventualmente em várias refeições, o que “vai potenciar sem dúvida nenhuma a transmissão”.
“É normal que isso aconteça, mas honestamente não sei mesmo o que poderia ser feito, porque confinar as pessoas no Natal é de uma agressividade em termos de medidas familiares e sociais enorme e, por outro lado, poderá defender-se que a saúde pública está primeiro”, comentou.
“Portanto, não vou discutir isso, vou só dizer que de facto é um equilíbrio muito complexo este tipo de decisões a serem tomadas”, rematou.
Segundo o investigado, só se irá perceber se “as coisas correram mal ou não” dentro de quinze dias porque o tempo de incubação da doença “é longo”.