“Não consigo deixar de estar preocupado quando ouço responsáveis do Serviço Regional de Saúde dizer que vão agora preparar os serviços para a situação que temos, quando, em tempos, nos disseram que estávamos preparados”, declarou o presidente do Sindicato de Enfermeiros da Madeira, Juan Carvalho, à agência Lusa.
O número de casos ativos de Covid-19 na Região Autónoma da Madeira, reportados na quinta-feira, é de 167, mas os números que começam a alarmar os profissionais de saúde são os de transmissão local (100), que na semana passada, pela primeira vez, ultrapassaram os importados (67).
“Há aqui uma contradição que me deixa preocupado: se, efetivamente, os serviços estão ou não preparados para dar resposta àquilo que é o aumento dos casos”, acrescentou o dirigente sindical, salientando a necessidade de reforçar rapidamente os mecanismos de prevenção e vigilância tanto no aeroporto como na comunidade.
Já o representante da Ordem de Enfermeiros da Madeira, Nuno Neves, assume que a prioridade nesta fase é “montar um dispositivo” para aumentar a capacidade de resposta à pandemia.
“Na área da saúde, uma das prioridades é montar um dispositivo que seja capaz de dar resposta a este acréscimo de casos. Por outro lado, a melhor forma de respondermos a isto é pela adesão da população às medidas de contenção. Precisamos de apostar nestas duas vertentes”, explicou, lembrando as dificuldades e os constrangimentos que o serviço de saúde já possuía antes da pandemia, entretanto agravadas.
A escassez de profissionais de saúde foi um dos pontos abordados pelos dois enfermeiros madeirenses, que apelaram a uma reação “a tempo e horas” do Serviço Regional de Saúde, até porque é preciso ter em conta a insularidade.
“Faço um apelo para que o Serviço Regional de Saúde recrute o número de enfermeiros necessários, que, do nosso ponto de vista, ronda os 250 a 300 profissionais urgentes para dar resposta, se necessário, ao agravamento da situação”, salientou Juan Carvalho, expondo o cansaço físico e psicológico que os enfermeiros estão sujeitos numa fase em que ainda não se justifica.
Nuno Neves admite que a “verdadeira questão” passa por perceber se existe “capacidade de resposta” à situação atual.
“Ao contrário de outras regiões do país, nós vivemos numa ilha, portanto, temos os constrangimentos normais da insularidade e não temos outra forma senão dar resposta aqui. Não temos outros hospitais em redor para transferir os nossos doentes, à semelhança de Portugal continental”, frisou.
O presidente da Ordem de Enfermeiros enalteceu o trabalho realizado no Aeroporto da Madeira, que fez “ganhar tempo” e aprender com a “realidade dos outros”.
“O controlo das entradas no aeroporto foi uma medida essencial e muito importante, que nos permitiu ganhar tempo em relação a outros lugares onde já há algum tempo estão a sentir os efeitos da segunda vaga. Mas reforço que o sucesso das medidas está na adesão da população”, apontou.