A uma altitude de 170 metros, em pleno Canhão Cársico da Ota, agora classificado como paisagem protegida de âmbito local, foi descoberto “um recinto murado com cinco mil anos”, os primeiros vestígios do que poderá vir a ser um povoado pré-histórico, disse à agência Lusa o arqueólogo André Texugo Lopes.
Através do motor de localização por satélite Google Earth, o arqueólogo já tinha conseguido identificar a estrutura murada pré-histórica, mas, devido à vegetação densa, só os trabalhos de desmatação e as escavações deste ano permitiram pô-la em parte a descoberto.
“Já identificámos quatro a cinco metros de largura da estrutura e um comprimento de 150 metros” afirmou o investigador do Centro de Estudos Geográficos e do Centro de Arqueologia da Universidade de Lisboa, apontando para que seja “provavelmente a maior estrutura pré-histórica deste tipo de sítios”.
As escavações, realizadas em conjunto com Ana Catarina Basílio, investigadora do Centro Interdisciplinar em Arqueologia e Evolução do Comportamento Humano da Universidade do Algarve, com a colaboração de arqueólogos da Universidade de Coimbra, da Universidade Autónoma de Madrid e da Universidade de Jaén (Espanha), permitiram perceber que o muro possui uma altura conservada de 1,4 metros, apesar de ter vários derrubes identificados.
O sítio arqueológico da Ota terá uma dimensão na ordem dos cerca de quatro hectares, incluindo uma zona de dois hectares rodeada pela muralha e outra fora da mesma, onde os arqueólogos também identificaram e escavaram estruturas e materiais de importância arqueológica, que estão, contudo, por datar.
O sítio estava identificado desde 1936, mas só em 2016 André Texugo Lopes, natural do concelho, no distrito de Lisboa, fez prospeções no local e estudou os materiais recolhidos à superfície nas últimas décadas, no âmbito da sua dissertação de mestrado e de um dos projetos que venceram o Orçamento Participativo de 2014 da Câmara Municipal de Alenquer.
A localização do sítio pré-histórico pode dever-se à existência de “água por perto e ao controlo e defensibilidade sobre a zona a 360 graus, localizando-se este sítio sobre uma via de comunicação importante, o rio Ota, que nasce na serra do Montejunto e desagua no Tejo”.
Durante as escavações, os arqueólogos encontraram materiais muito fragmentados do período Calcolítico e elementos da Idade do Bronze (cerca de 1500 anos antes de Cristo), da Idade do Ferro (cerca de 700 anos a.C.), do período romano (entre 400 anos a.C. e 200 anos d.C.) e do período islâmico (século VIII d.C.), que revelam uma ampla ocupação do sítio, ainda que com dinâmicas distintas.
Entre eles, destacam-se machados de bronze, machados de pedra polida, cerâmicas decoradas, elementos construtivos romanos, artefactos em sílex, ossos polidos e até um ‘lagomorfo’, que pensam estar associado a contextos funerários.
A dimensão do sítio leva os arqueólogos a depositar elevada expectativa em futuras campanhas.
“Sempre que desmatamos mais um bocadinho conseguimos sempre incrementar valor e encontrar estruturas arqueológicas”, disse André Texugo Lopes.
No âmbito da tese de doutoramento que está a desenvolver, André Texugo Lopes vai pela primeira vez em Portugal efetuar prospeção arqueológica recorrendo a ‘drones’ e a tecnologia, com um raio laser a penetrar na densa vegetação e a chegar ao nível do solo, identificando “com grande precisão estruturas arqueológicas, como as identificadas na Ota”.
C/ LUSA