A exposição acontece no Musée Régional d’Art Contemporain Occitanie/Pyrénées-Méditerranée, em Serignan, no Sul de França, e estará patente de 17 de fevereiro a 2 de junho, mostrando os principais períodos artísticos de Lourdes Castro, que viveu em Paris cerca de 25 anos, tendo voltado em 1983 para a Madeira.
"Adoro que seja um trabalho por vezes profundo e preciso, que conheceu várias estéticas diferentes", disse à agência Lusa a comissária da exposição, Anne Bonnin.
É um trabalho "entre as sombras e a luz, que é algo muito filosófico, mas que tem perspectiva leve", prosseguiu a curadora. Lourdes Castro "vai sempre para a solução mais simples nas suas obras e faz a síntese entre o modernismo da pintura ou da colagem, com o movimento pop nos anos 60".
Bonnin descobriu o trabalho de Lourdes Castro através do artista Francisco Tropa, e ficou "com muita vontade" de fazer uma exposição de fundo sobre o seu trabalho. Após algum tempo de pesquisa, a comissária de "Sombras e Companhia" visitou a artista na sua casa na Madeira, para conversar sobre a iniciativa.
"Não fui muito calorosa quando ela me falou da exposição", disse Lourdes Castro à agência Lusa, em conversa telefónica, referindo-se a esse primeiro contacto. "Estou aqui [na Madeira], já fiz tantas coisas e agora estou longe. Não queria saber muito mais das artes, mas ela insistiu e mostrou que conhecia bem o trabalho. Perturba sempre um bocadinho quando se quer estar fora dessas coisas".
Lourdes Castro nasceu no Funchal, em 1930, e foi viver para Paris com o marido, o artista René Bertholo, em 1958. Ambos fundaram, nesse mesmo ano, com os artistas António Costa Pinheiro, Gonçalo Duarte, José Escada e João Vieira, a revista KWY, letras escolhidas por serem as que o alfabeto português então não incluía. A este núcleo juntar-se-iam também os artistas alemão Jon Voss e o búlgaro Christo, residentes em Paris.
De peças inspiradas no surrealismo, Lourdes Castro começou a sua série de sombras em plexiglas, em 1964. Na década de 1970, Castro aliou-se a Manuel Zimbro para compor a sua projeção em filme "Teatro de Sombras".
Segundo Anne Bonnin, Lourdes Castro "nunca quis ser uma figura artística daquela época" e a sua arte "nunca foi pretensiosa", não sendo largamente conhecida em França.
A artista confirma isto. "[Ser conhecida ou não em França] Não é importante nem deixa de ser, é natural. E eu nunca fiz muita coisa por isso, tudo foi acontecendo. Fiz exposições em boas galerias, mas nunca levei o cartão debaixo do braço para falar do meu trabalho", disse Lourdes Castro.
A comissária da exposição "Sombras e Companhia" quer mudar esta realidade. "É um projeto que eu quero continuar a trabalhar e o seu trabalho [de Lourdes Castro] tem de ser descoberto. Não há muitos artistas como ela que falem a toda a gente", concluiu Anne Bonnin, em declarações à Lusa.
As peças para a exposição no Sul de França foram cedidas, maioritariamente, pela Fundação Calouste Gulbenkian, o Museu Coleção Berardo e o Museu Nacional de Arte Contemporânea – Museu do Chiado, em Lisboa, e por colecionadores privados.
A exposição conta ainda com o apoio da delegação da Fundação Calouste Gulbenkian em Paris.
LUSA