Na tabela periódica dos elementos químicos, o potássio das bananas está ao lado do lítio das baterias de telemóveis e do césio dos relógios atómicos, fazendo parte de um "mundo" de substâncias orgânicas e inorgânicas, naturais ou sintetizadas.
Na terça-feira começa oficialmente o Ano Internacional da Tabela Periódica dos Elementos Químicos, que as Nações Unidas declararam como 2019 em reconhecimento da importância da química na sociedade, em campos como a saúde, a energia e a agricultura.
A efeméride, que em Portugal será assinalada ao longo do ano com exposições, palestras, ações de formação para professores e uma edição de selos comemorativos, coincide com os 150 anos da tabela periódica de Dmitri Mendeleev, na qual se alicerçou a tabela periódica moderna, que foi atualizada em 2016 com a introdução de quatro novos elementos obtidos em experiências: nipónio, moscóvio, tenesso e oganésson.
A atual tabela tem 118 elementos químicos, dispostos em colunas segundo o seu número atómico, que define as propriedades químicas.
Grande parte dos elementos existe na natureza, os restantes foram sintetizados em laboratório. Há os metais e os não-metais, como os gases.
O secretário-geral da Sociedade Portuguesa de Química, Adelino Galvão, que vai estar presente na cerimónia de abertura do Ano Internacional, em Paris, França, compara a tabela a uma casa construída com peças Lego, em que as peças são todos os elementos que compõem a matéria, orgânica e inorgânica, que são ‘arrumados’ por ‘famílias’ em função de características químicas semelhantes, como a densidade e a radioatividade.
A forma como estão ‘arrumados’ os elementos químicos permite "prever propriedades físicas como a reatividade", salientou à Lusa, assinalando que o iodo liga-se aos compostos radioativos, pelo que foi administrado aos funcionários da central nuclear de Fukushima, no Japão, quando ocorreu um acidente em 2011 na sequência de um sismo.
Adelino Galvão chama ainda a atenção para os maus usos que são dados aos elementos químicos, sobretudo quando sintetizados em laboratório para fins como a guerra química ou drogas, e não como medicamentos para tratar doenças.
Para a investigadora Teresa Duarte, do Centro de Química Estrutural do Instituto Superior Técnico, a tabela periódica "representa toda a química e liga a química ao mundo", ao que existe na Terra e fora dela, "entrando nas casas e no dia-a-dia" das pessoas.
As estrelas como o Sol são feitas de hidrogénio, o elemento mais abundante do Universo, a Lua e os ossos têm cálcio, as moedas níquel, os aviões alumínio, a pasta de dentes flúor e as lágrimas e o sal sódio.
Os balões coloridos que se vendem nas feiras não se enchem sem hélio, as joias para serem valiosas ostentam ouro e o fogo-de-artifício ‘pinta’ o céu de vermelho graças ao estrôncio.
Teresa Duarte destaca também a utilidade dos elementos químicos na investigação científica: "Usam-se elementos da tabela periódica para miniaturizar materiais", ao nível da nanotecnologia.
O químico russo Dmitri Mendeleev conseguiu o feito de publicar, em 1869, a primeira versão da tabela periódica tal como hoje é conhecida, ao ordenar 63 elementos químicos de acordo com a sua massa atómica.
Não ganhou um Prémio Nobel, mas como ‘recompensa’, após a sua morte, o seu nome foi dado a um elemento químico, o mendelévio, sintetizado pela primeira vez em 1955. É um elemento metálico e radioativo sem aplicação.
Em Portugal, Mendeleev será lembrado, este ano, numa edição filatélica e a tabela periódica motivo para exposições (desde os formatos mais antigos aos mais recentes) e um encontro nacional com conferências sobre os elementos químicos presentes na alimentação, nos materiais ou na energia.
A cerimónia de abertura do Ano Internacional da Tabela Periódica dos Elementos Químicos decorre na terça-feira, na sede da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO), em Paris.
A sessão contará com intervenções do químico holandês Ben Feringa, Prémio Nobel da Química em 2016 e sócio honorário da Sociedade Portuguesa de Química, e do físico nuclear russo Yuri Oganessian, pioneiro na descoberta dos elementos químicos mais pesados. O elemento 118, o último da tabela periódica que foi sintetizado em laboratório pela primeira vez em 2002, chama-se oganésson em sua homenagem.