Educação e Ciência cruzam-se a partir de hoje num mês de conferências promovidas pela Fundação Francisco Manuel dos Santos em várias cidades, onde uma das preocupações centrais é o combate pela verdade num mundo de supostas alternativas e falsidades.
"Há muita gente a promover falsidades, é um problema do mundo contemporâneo", disse o coordenador das conferências, Carlos Fiolhais, referindo que "boatos sempre houve mas agora há meios para os espalhar pelo mundo".
Na ciência confia-se "porque tem métodos para distinguir o que está errado", mas há quem "queira fazer passar por ciência o que é para vender algum produto", ou para divulgar falsidades que levam as pessoas a determinadas posições políticas ou religiosas, afirmou o físico.
A permear as várias conferências com especialistas nacionais e internacionais que vão acontecer em cidades como Lisboa, Aveiro e Viseu, está a "ligação da Educação à Ciência" afirmou, considerando que "uma das falhas que há na educação é ensinar a distinguir a verdade da falsidade, desenvolver espírito crítico".
Na tarde do dia 06 de novembro, no Teatro Viriato, em Viseu, Carlos Fiolhais junta-se ao escritor britânico Ben Goldacre, que escreve para distinguir ciência verdadeira de "ciência da treta", referindo-se ao que considera pseudociências como a homeopatia e outro tipo de "medicinas alternativas que querem ganhar estatuto e formam grupos de interesses".
"Não são medicinas nenhumas, aquilo em que se baseiam não é ciência, é uma crença, que tem pequenas probabilidades de acertar, mas as pessoas agarram-se a qualquer coisa".
No campo da publicidade e mais especificamente da alimentação, há muita coisa "que pode ser considerada aldrabice", bastando colar "uma bactéria com um nome esquisito" a um iogurte para vender um produto com supostas qualidades medicinais.
Carlos Fiolhais indicou também que há "muitas quebras de ética" na comunidade científica, com "enganos voluntários" que fazem com que "ser cientista já não chegue a ser uma garantia" de credibilidade.
"Isto tem que ser falado. Há muita coisa que os cientistas não sabem, mas estuda-se para se chegar a um consenso
A abrir o mês, em Lisboa, fala-se hoje na Torre do Tombo, em Lisboa, de escolas inovadoras para fomentar a criatividade nas crianças.
Também em Lisboa, no dia 09, o tema é o universo e as várias maneiras de o pensar que foram vingando ao longo da História, da teologia à transição para a ciência.
Dia 14, na universidade de Aveiro, debatem-se as possibilidades de viver mais tempo, com os avanços médicos que moldarão os "Humanos do Futuro".
Dois dias depois, no Colégio dos Jesuítas do Funchal, recorda-se "Darwin na Madeira". Apesar de o autor da teoria da evolução das espécies nunca ter estado na ilha, usou testemunhos de muitos naturalistas sobre a Madeira para comprovar o seu legado científico e "fala mais vezes na Madeira do que nas Galápagos", indicou Carlos Fiolhais.
Na Universidade de Coimbra, a 19 de novembro, o tema são os avanços na neurociência e como tardam a chegar à educação, e no dia seguinte, O liceu Camões, em Lisboa recebe um debate sobre ensino da matemática.
O fim é em Carcavelos, nas instalações da Universidade Nova, onde o educador americano E.D. Hirsch irá debater "o papel da escola quando parece que o Google sabe tudo".
Para Carlos Fiolhais, a conclusão é clara: "quem pode saber somos nós e se não andarmos na escola não podemos saber nada".
C/ LUSA