No centro da polémica está o serviço público às regiões autónomas, numa altura em que o Governo regional da Madeira anunciou que iria avançar com um processo contra a transportadora, por perturbações na operação.
Em julho, a TAP referiu que “vários têm sido os constrangimentos na origem das irregularidades” e sublinhou os “fatores meteorológicos que têm sido piores este ano”. Em causa estão, entre outros, os cerca de 70 cancelamentos de voos da TAP para a Madeira entre janeiro e julho, o que, de acordo com o presidente do Governo da Madeira, Miguel Albuquerque, afetou aproximadamente 10 mil passageiros.
“No ano passado, entre janeiro e maio, foram cancelados 22 voos por razões meteorológicas. Este ano, no mesmo período, foram cancelados 139 pelo mesmo motivo. Para a TAP, mais importante do que os custos desses constrangimentos é a segurança dos seus passageiros, que é inegociável”, afirmou a companhia.
Na lista de problemas que provocaram cancelamentos pontuais estão as “obras no Aeroporto Sá Carneiro [Porto], constrangimentos no Aeroporto de Lisboa e no controlo de tráfego aéreo, também em Lisboa, greve de tráfego aéreo em Marselha, bem como falta de tripulação”, segundo a companhia. Aliás, esta questão tem sido a origem de muitos problemas na operação da TAP. O próprio Governo deu conta de “dores de crescimento” na companhia aérea.
O ministro do Planeamento e das Infraestruturas, Pedro Marques, disse, também em audição no parlamento, que a empresa está a responder a ineficiências operacionais, nomeadamente através da alteração do “processo de instrução” dos pilotos.
O governante referiu que a “TAP está a sofrer dores de crescimento”, porque “cresceu brutalmente”. Para acabar com “ineficiências operacionais”, a companhia está e vai continuar a contratar e já “alterou o seu processo de instrução da Autoridade Nacional de Aviação Civil (ANAC), para permitir que os pilotos cheguem à categoria de comandante de avião “mais cedo”.
A TAP tem atribuído uma parte das culpas pelas falhas na operação ao aeroporto de Lisboa. Em julho, a transportadora afirmou estar a sofrer “sérios danos” na sua pontualidade devido aos “graves constrangimentos e limitações” do aeroporto de Lisboa e do controlo do tráfego aéreo, que se têm agravado.
Como principal companhia aérea a operar no Aeroporto Humberto Delgado, em Lisboa, a TAP é, assim, a “mais afetada pelos graves constrangimentos desta infraestrutura aeroportuária”, disse fonte oficial da transportadora à agência Lusa, nessa altura.
“Esses constrangimentos e limitações do aeroporto de Lisboa, a que se juntam também os de controlo do tráfego aéreo, têm vindo a agravar-se e têm causado sérios danos à pontualidade da TAP, provocando atrasos significativos em toda a operação da companhia”, segundo a transportadora, que considerou esta “situação muito preocupante e danosa para os seus planos de expansão”.
Assim, segundo a mesma fonte, as queixas dos passageiros refletem essas “perturbações, às quais se juntam também desafios operacionais” que a empresa espera resolver brevemente com a chegada de novos aviões e com “o recrutamento, em curso, de mais tripulantes”.
No entanto, A ANA – Aeroportos de Portugal recusou, em 05 de julho, que a TAP a responsabilize por cancelamentos e atrasos, considerando que a falta de pontualidade nas companhias pode ser causada, nomeadamente, pela “operação sobredimensionada em relação à frota e tripulação” disponíveis.
Mais recentemente, foi noticiado que a transportadora aérea teve o sexto pior registo de pontualidade em agosto, num total de 164 companhias avaliadas, segundo a classificação divulgada pela empresa de estatísticas OAG. Em julho, a TAP tinha sido a sétima pior classificada entre 156 empresas na lista, com 47,1% de chegadas a tempo e 1,7% de cancelamentos em 12.535 voos. Em agosto, a empresa portuguesa registou 51,4% de chegadas sem atrasos, 1,2% de cancelamentos e um total de 12.551 voos, o que se traduziu na posição 159 do ‘ranking’.
Em julho do ano passado, a companhia aérea aprovou um plano estratégico a 10 anos, que coincidiu com a escolha de Antonoaldo Neves para a administração da empresa. Este documento inclui uma expansão da rede da companhia área.
Em abril deste ano, o gestor salientou que a companhia tem de “multiplicar por pelo menos sete vezes” os “bons resultados” de 2017 para atingir a média de rentabilidade das congéneres a nível global e assegurar a sustentabilidade.
Numa mensagem enviada aos trabalhadores da companhia aérea, a que a agência Lusa teve acesso, Antonoaldo Neves destaca que o lucro de 21,2 milhões de euros registado no ano passado pela TAP SGPS foi “o melhor resultado dos últimos dez anos”, num contexto de “prejuízos acumulados ao longo de muitos anos”, e traduz a “transição para um novo ciclo” de criação de valor na empresa.
“Mas quero deixar claro que, apesar disso, estes resultados ainda não são confortáveis, tendo em vista os compromissos que temos pela frente, bem como a volatilidade comum ao setor aéreo”, sustentou.
A empresa resolveu, entretanto, aumentar o número de voos do Porto, invertendo, segundo o JN/DN, a estratégia que tinha estabelecido para a cidade.
A audição de hoje, marcada para as 15 horas, terá lugar na Comissão de Economia, Inovação e Obras Públicas, tendo sido requerida pelo PSD, PE e Bloco de Esquerda.
LUSA