Comecemos pelo essencial: a ideia de que a Iniciativa Liberal poderia integrar esta geringonça reencarnada é tão absurda que merece ser desmontada. A IL, goste-se ou não, tem uma identidade clara e um propósito definido. Defendemos menos Estado, menos impostos, mais liberdade individual. Agora expliquem-me, com o vosso melhor ar sério, como isto é compatível com um BE que ainda acha que a URSS foi uma ideia promissora ou com um PAN cuja maior ambição parece ser proibir bifes ao pequeno-almoço. Será que Cafôfo imagina que vamos negociar o liberalismo em troca de quotas de tofu nas cantinas escolares?
Depois há o PS, que nos trouxe até este pântano com o seu hábito insaciável de gastar dinheiro que não tem, de taxar quem trabalha e de distribuir prebendas pelos amigos. E há o JPP, essa espécie de sindicato dos irritados, sempre prontos a gritar, mas incapazes de apresentar uma ideia coerente. Estes partidos não têm uma base comum: têm, no máximo, um ressentimento partilhado contra quem lhes tira o lugar à mesa. E Cafôfo, qual mediador de feira, acha que pode juntá-los como se fosse vender um conjunto de panelas.
A verdade – e esta é apenas a minha opinião, claro – é que esta proposta não é política; é patética. É o reflexo de uma certa mentalidade portuguesa que vê o poder como um fim em si mesmo. Cafôfo não tem um projecto, não tem uma ideia, não tem sequer uma desculpa convincente. O que ele tem é uma calculadora, onde soma votos como quem conta feijões. A coligação que propõe não é um governo: é uma comissão de interesses, disfarçada de ambição colectiva.
E, como seria de esperar, nada disto faz sentido. Imaginem os debates internos: um BE que quer destruir o capitalismo, sentado ao lado da IL, que quer libertá-lo. Um PAN que chora pelos cães vadios, enquanto o JPP grita que os culpados são “eles”. E no meio, Cafôfo, a tentar convencer-nos de que esta ópera bufa pode ser governável. O resultado? Uma anedota que acabaria, inevitavelmente, em desgoverno ou, pior ainda, em tragédia.