“Em 220 milhões de famílias, perto de 11 milhões encontram-se em privação severa de habitação, ou seja, não têm residência própria, vivem na rua, num albergue, num hotel social ou estão alojados em casa de alguém”, refere o estudo da Fundação Abbé-Pierre (FAP) e da Federação Europeia das Organizações Nacionais que trabalham com os Sem-Abrigo (FEANTSA), publicado no jornal francês Le Monde.
"A definição de sem-abrigo pode não ser a mesma de um país para outro, mas em toda a Europa os aumentos [desta população] são enormes", afirma Sarah Coupechoux, da Fundação Abbé-Pierre, ao jornal.
A Alemanha registou, entre 2014 e 2016, um aumento para mais do dobro (mais 150%) da população sem-abrigo, assim como a Irlanda, que observou uma subida de 145% entre 2014 e 2017.
Bruxelas registou uma quase duplicação do número de sem-abrigo entre 2008 e 2016, tendo Espanha constatado uma subida de 20,5% entre 2014 e 2016 e a França 17%, entre 2016 e 2017.
Entre todos os países europeus, apenas a Finlândia reduziu o número de sem-abrigo, tendo registado uma descida de 18% entre 2009 e 2016.
"Os finlandeses prosseguiram uma política voluntarista, reunindo todos os atores, estabelecendo metas e implementando meios com um esforço contínuo ao longo de vinte anos para uma política baseada no princípio da ‘casa primeiro’", diz Sarah Coupechoux.
Esta política, explicou, visa prevenir despejos e intervir o mais rápido possível para evitar que a pessoa que fica desalojada tenha de passar pelas etapas do alojamento de emergência, mudando-se para uma habitação condigna.
O relatório também observa a explosão dos preços da habitação em toda a Europa, não acompanhada pelos rendimentos dos habitantes, sendo os inquilinos mais penalizados.
Entre 2010 e 2016, o aumento do custo da habitação, seja casa própria ou alugada, ultrapassou os 20% em metade dos Estados-membros da União Europeia.
Os aumentos mais acentuados observaram-se na Bulgária (54%), no Reino Unido (45%), em Portugal (40%) e na França (21,5%), refere o relatório.
Na União Europeia, 11% das famílias e 14% dos jovens entre os 18 e os 24 anos fazem um esforço excessivo para encontrar casa, o que significa gastar mais de 40% de seus rendimentos.
Mas essa proporção atinge 46,9% entre os jovens na Grécia, 38,6% na Dinamarca, 19,9% na Holanda, 19% no Reino Unido, 18,4% na Suécia, 17,1% na Alemanha, 11,5% na França e 9,5% em Portugal.
"No momento em que a Europa está a recuperar o crescimento, pedimos aos estados que invistam na prevenção da habitação precária", sublinha Sarah Coupechoux.
LUSA