Publicado na revista científica Conservation Letters, o estudo analisou as “100 maiores Áreas Marinhas Protegidas do mundo (…) que representam 90%” da zona preservada a nível global, visando avaliar o progresso real das AMP em relação ao objetivo determinado pelas Nações Unidas de garantir a conservação de 30% do oceano até 2030, indica o comunicado daquele instituto.
Os investigadores consideram que “os governos estão a falhar na concretização da promessa de proteção eficaz da biodiversidade, devido à lenta implementação de estratégias de gestão e à falha em restringir as atividades mais impactantes”.
“Apesar dos avanços nos compromissos e intenções, a proteção real e eficaz do oceano ainda está muito aquém do que esses compromissos exigem”, refere Emanuel Gonçalves, professor do ISPA e investigador do Centro de Ciências do Mar e do Ambiente (MARE), citado no comunicado.
O cientista, igualmente responsável científico da Fundação Oceano Azul, salienta ser preciso corrigir e “fazer diferente”, trazendo “padrões internacionais para implementar redes de AMP com a escala, velocidade e impacto necessários para proteger o que resta e recuperar o que perdemos”.
De acordo com a análise realizada, apenas “um terço da área designada” das AMP conta com “um nível de proteção que poderá resultar em benefícios significativos para a conservação”, enquanto “mais de um terço da área (…) permite atividades industriais ou outras atividades, como a pesca comercial em larga escala, que são a principal causa da perda de biodiversidade nos oceanos e incompatíveis” com as AMP.
Beth Pike, do Marine Conservation Institute e investigadora principal, destaca a importância de uma gestão eficaz para se alcançarem os resultados pretendidos.
“As AMP podem proporcionar benefícios significativos para as pessoas, a natureza e o planeta”, diz, lamentando a existência de “grandes lacunas entre a quantidade de oceano coberta por AMP” e a solidez da proteção.
Os resultados do estudo indicam que os métodos atuais de dar informação e fazer o acompanhamento “sobrestimam a quantidade e qualidade da proteção marinha”.
Os investigadores defendem ser essencial “garantir que as AMP sejam implementadas e geridas de forma eficaz, e que se estendam por todos os ecossistemas marinhos”, adianta o comunicado.
A maioria das grandes áreas, totalmente e fortemente protegidas, está em territórios ultramarinos isolados, como os designados pelo Reino Unido e pelos Estados Unidos.
Além do referido investigador português, Bárbara Horta e Costa, do Centro de Ciências do Mar (CCMAR), da Universidade do Algarve, participou no estudo “Ocean protection quality is lagging behind quantity: Applying a scientific framework to assess real marine protected area progress against the 30 by 30 target”.
Lusa