As declarações de Joaquim Miranda Sarmento foram feitas no plenário da Assembleia da República, quando o presidente do parlamento em exercício, o deputado comunista António Filipe, se preparava para seguir o Regimento e proceder a uma segunda tentativa de eleição.
O deputado do PSD José Pedro Aguiar-Branco falhou a eleição para presidente da Assembleia da República com 89 votos a favor, 134 brancos e sete nulos, na primeira sessão plenária da XVI legislatura.
Depois de uma interrupção de mais de meia hora dos trabalhos, António Filipe preparava-se para dar cumprimento ao Regimento que determina que, se um candidato não for eleito, “procede-se imediatamente a segundo sufrágio”, quando Miranda Sarmento pediu a palavra.
“O grupo parlamentar do PSD foi informado que nem PS nem Chega mudam o seu sentido de voto e inviabilizarão a sua eleição e, nesse sentido, retiramos a candidatura de Aguiar-Branco”, anunciou.
O líder parlamentar do PSD defendeu que hoje o parlamento assistiu “à primeira coligação negativa da XVI legislatura entre PS e Chega”.
“Talvez haja uma coligação positiva e queiram apresentar um candidato”, ironizou, recebendo um grande aplauso da bancada do PSD.
Em resposta a esta intervenção, o líder do Chega, André Ventura, perguntou “em que bola de cristal” é que Miranda Sarmento viu o sentido de voto da sua bancada e acusou o PSD de ter optado por “procurar coligações com o PS”, “ignorando 1.200.000 de portugueses” que votaram no Chega.
“Quando se chega a este ponto em que se manda a toalha ao chão, é porque o deputado sabe tão bem como eu que puseram o interesse egocêntrico do partido acima do país. (…) Utilizando uma expressão muito conhecida vossa: não é não”, afirmou.
Já o líder parlamentar do PS, Eurico Brilhante Dias, disse que o país assistiu, nas últimas 24 horas, “a um acordo à direita”, em que o Grupo Parlamentar do PSD se comprometia a votar favoravelmente o nome proposto pelo Chega para a vice-presidência da Assembleia da República, sendo expectável que, em contrapartida, o partido de extrema-direita aprovasse o nome de Aguiar-Branco.
“Aquilo que acontece hoje aos olhos dos portugueses é que o acordo à direita não funcionou, foi rasgado em menos de 24 horas e, por isso, incluir o Grupo Parlamentar do PS (…) é apenas má fé: o PS não foi tido nem achado nos acordos com a direita”, salientou.
Depois destas intervenções, António Filipe decidiu uma nova suspensão dos trabalhos para que os vários líderes parlamentares possam decidir como proceder.
“O processo vai ter de se reiniciar, vamos ter de aguardar até final do dia hoje pela apresentação de novas candidaturas para marcar a continuação dos trabalhos em plenário e para marcar nova eleição”, disse, deixando a decisão para as bancadas se essa continuação poderia ser feita ainda hoje ou só na quarta-feira.
Lusa