O Bordado Madeira tem sido utilizado por vários estilistas, que o encaram de forma diferente: há quem cresça com os ‘pontos’ e os queira promover e quem não sinta obrigação de os usar só porque está na Madeira.
Com atelier aberto desde 1999, mas a criar coleções desde 1989, André Correia admite que o uso do Bordado Madeira na confeção e idealização de roupas resume-se a uma preposição, entre ser bordado da Madeira ou na Madeira.
"Há o bordado na Madeira porque muitas das técnicas são internacionais, com influência dos mais variados países, em termos de pontos. E depois existe realmente um bordado da Madeira que tem uma assinatura própria, mas isso tem a ver com o próprio design do bordado e com uma inspiração mais romântica", explicou.
O Bordado Madeira nasceu no século XIX pela mão da inglesa Elizabeth Phelps, que fundou um atelier no Funchal para ensinar a arte a jovens da ilha.
No decorrer do século XX, o bordado era já uma das principais atividades profissionais desenvolvidas pelas mulheres madeirenses, dada a possibilidade de conciliação com as lides domésticas, contribuindo para a economia familiar.
André Correia reconhece que não usa o bordado de forma "recorrente", sendo pontual o seu uso porque, tal como qualquer outra técnica, esta é "mais uma".
O estilista não tem nada contra nem a favor do uso e defendeu que não é por estar na Madeira que tem de se sentir "cingido" a esta técnica.
Contudo, não recusa trabalhos nos quais seja pedido a introdução de bordado.
Nesses casos, ressalvou que "são necessárias bordadeiras que consigam bordar em tecidos mais delicados, com pontos mais delicados e que haja esses mesmos tecidos que consigam ser resistentes à lavagem do próprio pigmento que é feito para manter lá o padrão".
André Correia defendeu ainda a criação de um corpo de elite de bordadeiras por considerar que de trata de um produto de luxo, com tratamento de luxo.
Para o estilista Hugo Santos, o uso do Bordado Madeira nas peças que idealiza já vem de família.
"A minha origem vem do bordado. Desde o meu bisavô que [o bordado] existe na família. Eu nunca quis ser estilista, mas queria evoluir no bordado porque nunca o vi como artesanato puro, nem como indústria", refere o designer com 53 anos e 33 de tradição nesta área.
O estilista é um protetor acérrimo do uso do bordado madeirense, defendendo o recurso ao marketing e à investigação, nesta área.
"Sem design, sem equipa, sem organização e um sistema de investigação em que todos os dias se desenhem coisas e se experimentem tecnicamente novos produtos, não existirá evolução neste produto", afirmou.
Hugo Santos reconhece que a evolução só é permitida com recurso a criativos, algo que considera não existir na região, o que depois se reflete nos produtos e na indústria.
"É muito bonito abrir lojas de artesanato, mas se não temos um produto com design e bonito, com inovação, as pessoas vão falir", disse o estilista, que admitiu que já faliu por causa do bordado e teve de se adaptar ao novo mundo globalizado.
As criações de Hugo Santos podem começar nos mil euros para os vestidos de noiva e vão subindo.
"Estou a fazer um desenho de um vestido para a Austrália", disse, referindo que há um casal alemão que vai anualmente à Madeira para que o estilista desenhe peças novas.
Questionado sobre como faz para, por exemplo, tirar as medidas de alguém que está na Austrália, respondeu que ensina a fazê-lo pelo Skype.
Em 2016, o mercado do bordado valia 809 mil euros, com os Estados Unidos da América a ser o principal comprador.
Segundo uma estimativa do Instituto do Vinho e do Bordado da Madeira, estão ativas 3.133 bordadeiras em toda a região.
LUSA