As baias de segurança foram colocadas a cerca de 150 metros das entidades que assistiram sentadas aos discursos do dia, limitando o acesso de populares, que ainda tinham a meio do seu campo de visão as traseiras de um palco destinado aos meios de comunicação social.
“Agora é uma cerimónia privada? Encurralaram-nos aqui. Todos os anos venho aqui e nunca vi uma coisa destas”, dizia uma das presentes, que pediu para ser identificada como “uma cidadã portuguesa revoltada com tudo isto”.
A desilusão também passava pelo rosto de Ana Lourenço, que pensava estar mais perto para ver e ouvir, mas afinal ficou ali, num “autêntico funil”.
“Estamos descontentes, parece que estamos numa prisão, porque não se vê nada. Isto, afinal, é a liberdade e não é liberdade”, disse.
Outro cidadão que não quis ser identificado explicava que “esteve 10 anos a chefiar na Câmara” e nunca viu nada assim.
“Montavam aqui policiamento, estava tudo cheio de pessoal até aos candeeiros e no final as pessoas entravam lá dentro a visitar a Câmara”, edifício de onde foi proclamada a República, contou.
Já o Batalhão da Guarda Nacional Republicana tinha formado, entre a Praça do Município e a Rua do Arsenal, fazendo adivinhar para breve o início das cerimónias, e havia quem sugerisse que o povo deveria ir todo embora, tal “a falta de respeito”.
“Na democracia ganham-se umas coisas, mas perdem-se outras. É assim. Temos que habituar-nos aos novos tempos”, disse Nuno.
Silvério Amador, com 82 anos, foi apanhado de surpresa com as baias tão longe do evento e com a pouca gente que se juntou às comemorações, às quais apenas faltou durante a pandemia.
“Infelizmente, estamos nesta situação. Por motivos de segurança ficamos à distância”, considerou.
Para Silvério Amador, os políticos presentes no evento tentaram evitar os protestos que têm acontecido com os professores, “a nível da habitação, a nível das (alterações) climáticas” e “desses fala-barato que querem aproveitar as presenças de pessoas convidadas, pessoas de certo respeito, para lhes dizerem tudo”.
Ouvia-se o Hino Nacional e os professores ainda não estavam. Só se fizeram notar ruidosamente em cima dos discursos, primeiro do presidente da Câmara de Lisboa, Carlos Moedas, e depois do Presidente da República, a mesma que hoje comemora 113 anos.
Enquanto Moedas dizia, no seu discurso, que “hoje cabe aos políticos não se fecharem no mundo irreal, mas abrirem-se à realidade”, evitando “o atual divórcio” entre a política e as pessoas, entre os populares descontentes, dois professores tornaram o seu protesto audível, enquanto empunhavam cartazes com caricaturas de António Costa e do ministro da Educação.
Foram gritadas palavras de ordem como “É uma vergonha”, “Eu quero ensinar a República na escola” e “A República não é uma festa privada”.
O dia da Implantação da República coincide com o Dia do Professor.
Além de Marcelo Rebelo de Sousa e de Carlos Moedas, estiveram na cerimónia oficial o presidente da Assembleia da República, Augusto Santos Silva, e o primeiro-ministro, António Costa.
Lusa