Convidado do programa ‘Grande Entrevista’ da RTP3, filmado no Museu do Dinheiro do Banco de Portugal (BdP), em Lisboa, Mário Centeno considerou ser um "mito" a ideia de que a economia portuguesa não cria empregos qualificados e com salários acima da média.
"Desde 2019 criámos 112 mil postos de trabalho em setores como comunicação, consultoria, setores científicos, imobiliário", disse, precisando que o salário médio destes novos empregos ronda os 1.800 euros.
Referindo que apesar de o turismo ser sempre apresentado como o grande motor da economia, os dados mostram que o emprego cresceu 35% naqueles setores (com o seu peso a passar de 10% para valores da ordem dos 14% a 15%), enquanto no mesmo período, ou seja, desde 2019, o turismo criou 44 mil postos de trabalho.
"Não é verdade que desde 2019 o emprego tenha crescido à custa de setores de salários baixos e à custa apenas do turismo", precisou, salientando que a economia portuguesa atravessa uma lógica de "transição", mas que este é um processo lento, que não consegue de repente responder às aspirações de todos os jovens qualificados.
Durante a entrevista, Mário Centeno refutou ainda um outro mito, muitas vezes com eco fora de portas, relacionado com os créditos contraídos pelas famílias.
"Aquilo de se dizer que os portugueses viviam acima das suas possibilidades e que os portugueses não cumprem é falso. Não cola com a realidade. Os portugueses cumprem", disse, sublinhando que as taxas de incumprimento "são muito baixas e neste momento não há nenhuma alteração face a esta realidade".
Questionado sobre o facto de numa zona euro quase estagnada, Portugal se destacar pelo ritmo do crescimento da sua economia, Mário Centeno afirmou que a economia atravessa uma dinâmica que é nova, em que o número de empregos aumentou em um milhão no espaço de uma década e em que pela primeira vez os imigrantes que chegam ao país têm menos qualificações do que quem já cá reside.
Sobre se a folga orçamental deve ser usada para reduzir impostos e aumentar salários, referiu que a redução dos tributos deve também ser vista numa lógica de transição.
Sobre a vertente salarial, lembrou que os salários têm vindo a crescer e que do ponto de vista da decisão política não devem ser tomadas decisões que ponham em causa o curso do ciclo económico.
A prioridade deve ir para a redução da dívida, referiu, lembrando que apesar da forte redução desta em percentagem do PIB, "continua alta", sendo aconselhável "manter a trajetória de redução sustentada".