“Ele matou Prigozhin, pelo menos esta é a informação que todos nós temos, não temos outra informação”, disse Zelensky numa conferência em Kiev, citado pela agência France Presse (AFP).
Os homens do Grupo Wagner estiveram na linha de frente dos combates no leste da Ucrânia, incluindo a batalha pela cidade de Bakhmut, capturada pelas forças russas em maio, após quase um ano de combates sangrentos.
Depois da queda de Bakhmut e de uma tensão crescente com o ministro da Defesa e com a chefia do exército da Rússia, Prigozhin liderou uma rebelião no final de junho, com operacionais do Grupo Wagner a conduzirem uma marcha em direção a Moscovo com o objetivo de afastar as lideranças militares russas.
A rebelião foi travada pela mediação de Alexander Lukashenko, aliado de Putin e Presidente da Bielorrússia, para onde parte do Grupo Wagner se deslocou, antes da morte de Prigozhin e de homens da cúpula da empresa paramilitar num desastre aéreo, em 23 de agosto.
Os representantes do Grupo Wagner estavam a bordo de um jato privado que fazia a ligação entre Moscovo e São Petersburgo.
Putin rejeitou estar por detrás da morte de Prigozhin, descrevendo-o como um homem talentoso que fez muito pela Rússia mas que cometeu erros.
Na conferência em Kiev, o Presidente ucraniano disse que Putin aposta nas próximas eleições presidenciais em 2024 nos Estados Unidos, esperando que uma vitória republicana, em concreto do ex-Presidente norte-americano Donald Trump, enfraqueça o apoio de Washington a Kiev.
“[Os russos] contam com as eleições americanas (…) embora tenhamos apoio mútuo e bipartidário”, afirmou Volodymyr Zelensky, admitindo, no entanto, a existência de “vozes dentro do Partido Republicano que dizem que o apoio à Ucrânia deve ser reduzido”.
Zelensky afirmou acreditar, porém, que o futuro Presidente dos Estados Unidos deverá respeitar a vontade popular dos seus cidadãos e manter ajuda a Kiev.
No mesmo discurso, também marcado por críticas implícitas aos aliados, nas quais apontou lentidão nas entregas de equipamento militar e na aplicação de sanções, e por referências ao facto do progresso na contraofensiva das forças de Kiev ser prejudicado pela supremacia aérea de Moscovo, Zelensky referiu-se ainda às eleições presidenciais e parlamentares na Ucrânia, que deveriam realizar-se em 2024 mas sem calendário devido ao conflito no país.
“Os representantes americanos levantaram a questão” das eleições na Ucrânia, acrescentou o chefe de Estado um dia depois de uma viagem a este país do secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, observando que está pronto para a votação “se o povo precisar".
“Não é uma questão de democracia”, mas “apenas de segurança”, indicou Zelensky, que se mantém como o político mais popular da Ucrânia, ao mesmo tempo que sublinhou que havia muitos problemas a ajustar.
Entre as dificuldades, mencionou a organização da votação para dezenas, até mesmo centenas de milhares de soldados "nas trincheiras", e a de enviar observadores internacionais para a zona de guerra, onde continuam violentos combates e bombardeamentos.
Também disse que o país não tem “infraestrutura” para organizar a votação para milhões de refugiados ucranianos no exterior e poderia potencialmente montar uma votação ‘online’, mas que ainda não existe na Ucrânia.
“Tenho uma pergunta para os nossos parceiros: vocês reconhecerão tal votação?” disse Zelensky.
O chefe de Estado questionou igualmente o destino dos ucranianos que vivem nas zonas ocupadas pela Rússia e que representam um total de quase 20% do território no leste e no sul do país.
“Como eles vão expressar sua vontade?”, finalizou.
Lusa