O Vitinho, personagem que há 30 anos marcava a hora de os mais pequenos irem para a cama, regressa agora numa coleção de livros para crianças que inclui um volume para os pais, sobre a história do boneco.
No início da década de 1980, o ‘designer’ José Maria Pimentel desenhou o menino de chapéu de palha e jardineiras amarelas, com um V ao peito como os super-heróis, para a agência de publicidade onde trabalhava, a pedido de uma marca de cereais, pensando que ao fim de seis meses se livraria dele.
“Em publicidade não há expectativa que o efeito do nosso trabalho dure mais do que seis meses”, referiu em declarações à Lusa. Mas o “miúdo”, como José Maria Pimentel se refere a Vitinho, autonomizou-se da marca de cereais e os seis meses acabaram por se transformar em anos.
A 16 de outubro de 1986, o Vitinho saltou para os ecrãs de televisão com a rubrica “Boa Noite”, que acabaria por marcar uma geração. “Está na hora da caminha, vamos lá dormir! Vê, lá fora as estrelas dormem a sorrir” eram os primeiros versos de uma música repetida diariamente no canal 1 da RTP, numa altura em que, em Portugal, havia apenas dois canais de televisão.
“Costumo falar do Vitinho como um miúdo, alguém que existe de facto, não só por ser animado, mas porque ganhou no meu dia-a-dia uma alma. Talvez esta forma de me projetar nele e de desenhar e conceber histórias como se ele existisse tenha contribuído para essa notoriedade que ele ganhou”, defendeu.
Além da “postura honesta” ao criar o boneco, José Maria Pimentel acredita que “o efeito de repetição [esteve na televisão vários anos] pode ser uma parte muito importante da resposta” sobre o sucesso do Vitinho.
O regresso do boneco no formato de coleção de livros surgiu porque, passados 25 anos, José Maria Pimental conseguiu “ter acesso ao registo dele, porque prescreveu e a marca de cereais já não o queria”.
“Este boneco tornou-se tão presente na vida das pessoas que era giro continuar”, disse.
José Maria Pimentel não tem “dúvida nenhuma que o Vitinho adquiriu uma autoridade institucional e pedagógica que se surgisse, como agora através dos livros, a fazer recomendações aos pais em relação a comportamentos, até à política, teria impacto”.
“Não com aquela escala [de há 30 anos], mas se surgisse como alguém que poderia por correções nos comportamentos, criar hábitos e rotinas saudáveis, funcionaria, teria adesão. Porque é urgente e porque as pessoas lhe reconhecem autoridade pedagógica para isso”, afirmou.
Além da coleção de livros para crianças, da qual foram já editados dois volumes, José Maria Pimentel decidiu fazer um livro a pensar nos “miúdos que iam deitar com o Vitinho, a geração Vitinho, que são pais dos miúdos de agora”.
LUSA