Segundo o ‘site’ estatístico Our World in Data, Portugal continua esta semana a ser o quarto país da União Europeia com mais novos casos diários de contágio, passando de sexto para quinto no mundo.
“Neste momento, não tem havido muita preocupação em conter a transmissão desta variante, que é a mais prevalente em Portugal, a Ómicron, e isso tem-se visto até pelo número exageradíssimo de novos contágios que temos detetado todos os dias”, afirmou à agência Lusa o diretor da Unidade de Microbiologia Médica do IMHT.
Para o virologista, cerca de 50 mil novos contágios diários é um número “muito acima do que seria expectável” há uns meses.
Por um lado, apontou, “há um relaxamento das medidas de contenção de redução de contágios”, mas, por outro lado, o Serviço Nacional de Saúde “não tem sofrido muito com isso”.
Apesar do “número enorme de contágios”, o número de doentes em cuidados intensivos tem-se mantido em “quotas aceitáveis” para o SNS, que “muito provavelmente não irá entrar em rutura, como aconteceu em 2021.
Para o investigador, esta situação deve-se sobretudo à vacinação e ao facto de os contágios afetarem, principalmente, pessoas mais jovens que, apesar de geralmente terem sintomatologia leve, são veículos de transmissão do vírus, sendo esse um dos motivos de haver tantos casos.
O diretor da Organização Mundial da Saúde Europa afirmou, no domingo, que a Ómicron iniciou uma nova fase da pandemia na Europa que a pode aproximar do seu fim, mas pediu cautela devido à imprevisibilidade do vírus.
Para Hans Kluge, as políticas de saúde devem agora centrar-se em proteger as pessoas vulneráveis, em vez de procurarem diminuir a intensidade da transmissão do vírus.
Questionado sobre esta situação, Celso Cunha afirmou que os mais vulneráveis (idosos, pessoas com comorbilidades e imunodeprimidos) são prioritários em Portugal em termos de vacinação.
Advertiu, contudo, que apesar de estarem vacinados com a dose de reforço, os idosos “não estão totalmente protegidos”, porque as vacinas não protegem a 100%, e nesta população, à partida, a sua eficácia “é um bocadinho menor”.
Por estas razões, defendeu que não é o momento para “aliviar muito” as restrições: "Devemos continuar a testar, a ter algumas restrições nos contatos, continuar a usar máscara" e a vacinar.
“Se toda a gente estivesse vacinada podíamos andar a pedir que fossem aliviadas algumas restrições, mas acho que não temos o direito de estar a exigir que se aliviem as restrições, sabendo que isso vai causar um grande número de mortos”, advertiu.
“Talvez daqui por umas semanas, uns meses, passado este pico da variante Ómicron e o tempo começar a melhorar”, com reflexo na redução de casos, hospitalizações e de mortes, poderá aliviar-se “um bocadinho mais” as medidas de contenção, mas neste momento “ainda é prematuro”.
Também considera prematuro falar-se em endemia: “Endemia significa que temos uma infeção numa determinada zona geográfica, numa determinada população e que vamos ter surtos dessa infeção com alguma regularidade que até conseguimos de algum modo prever”, mas para isso é necessário ter “muita gente imunizada”, ou porque teve a doença, ou foi vacinada.
Se isso acontecer em Portugal, e na maior parte da Europa, poderá chegar-se a “um ponto de equilíbrio”. “Quando o nosso ‘R’ [índice de transmissibilidade] ficar à volta de 1, com uma população vacinada, o número de casos vai tender a estabilizar”.
“Mas é cedo, nem sei se vamos conseguir, porque para termos este vírus endémico vamos ter que ter sempre uma grande parte da população imunizada”, insistiu.
Celso Cunha está convicto que, depois desta “grande onda” epidémica, “uma grande parte da população” ficará imunizada “nas próximas semanas ou meses”.
“Esta variante está a infetar quase toda a gente, temos 50, 60 mil casos por dia, isso significa que, a este ritmo, ao fim de 20 dias teremos quase um milhão de pessoas imunizadas e isso abrangeria uma parte dos que estão vacinados, mas sobretudo aqueles que não estão vacinados”, indicou.
Sobre o que acontecerá depois disso, disse ser imprevisível: “As taxas de vacinação no mundo inteiro são muito diferentes e a qualidade das vacinas que são administradas em diversas partes do mundo também é diferente”.
“Neste momento, estamos a falar da Ómicron, mas poderão surgir novas variantes” que não se sabe se irão “ser mais graves ou menos graves, mais ou menos transmissíveis com patologias associadas também mais graves”.