"A insegurança é a nossa principal preocupação. Mas como tudo no país, a crise tem-nos afetado”, em particular a falta de bens essenciais. “Os meus pais estão fora do país, devido à falta de medicamentos", explicou um comerciante à Agência Lusa.
João Abel Gonçalves, insiste que é possível “ganhar dinheiro” no país, mas a falta de medicamentos inviabiliza a permanência das pessoas.
"A inflação também está a fazer estragos, porque quando temos o dinheiro para comprar algo à noite o preço é outro”, mas, “basicamente, as nossas preocupações são a insegurança", disse.
João Abel Gonçalves é presidente da Associação Luso-venezuelana de Clarines, que em 2018 alertava que apenas já ficavam "238 portugueses" naquela zona, dos quais "alguns já faleceram", principalmente idosos, "e outros foram embora", para fugir da crise.
Por outro lado, Leonel de Sousa, presidente da Câmara de Comércio e Construção de Clarines, está apreensivo com o que acontece e alega que "a economia é também uma das maiores preocupações nesta zona".
"Mais de 90% dos portugueses que estão por cá são da Madeira. Muitos deles trabalharam na agricultura e isso não tem corrido nada bem” pela falta de produtos agroquímicos no país e pelos problemas de acessibilidade, explicou.
Segundo Leonel de Sousa, "não há manutenção das estradas, nem peças para reparar as viaturas".
"Muitos comerciantes têm ido embora porque, lamentavelmente, não conseguem aguentar (a crise). A situação é muito crítica e alguns comerciantes, têm tentado manter-se, mas outros deixaram de ter capacidade para manter as portas abertas" explicou.
A situação, explicou, não é apenas em Clarines, também em todo o Estado de Anzoátegui, onde se estima que vivam mais de 20 mil portuguese.
"Os negócios estão a fechar. Alguns têm vendido tudo o que durante 20, 30 ou 40 anos construíram por cá. Investiram tudo e agora estão a ir embora sem nada, porque não conseguem quem compre (as suas propriedades) a um preço que realmente seja justo", frisou.
Preocupado, Leonel de Sousa, diz ainda que devido "à situação económica, à crise que afeta a Venezuela" muitos portugueses "preferem conseguir ficar com algum dinheiro, aceitar qualquer quantia (que lhes oferecem pelas propriedades) e ir embora (do país), para tratar de começar de novo".
Quanto a Clarines, explicou que é uma pequena cidade, principalmente de descanso, cuja aposta principal sempre foi a cultura. Nela faziam-se grandes festas de carnaval, em semana santa e a de Santo António e que competiam com outras grandes festas no país.
No entanto, apesar da crise, segundo any Moreira, do Instituto Português de Cultura, a localidade de Clarines “tem-se convertido num polo de união de culturas, entre Portugal e a Venezuela".
"Temos feito um trabalho significativo ao longo de muitos anos e temos conseguido que Clarines seja esse polo da cultura luso-venezuelana. Aqui temos projetos que vão desde a educação (ensino de português numa escola pública), que passam pela cultura, até parte social", frisou.
C/ LUSA