Só em agosto, 44.000 crianças foram admitidas em instalações de saúde na Somália por desnutrição aguda grave, segundo a UNICEF.
Isto significa que, "a cada minuto, uma criança é admitida numa unidade de saúde para tratamento de desnutrição aguda grave", disse o porta-voz da Unicef, James Elder, por videoconferência.
O porta-voz acrescentou, contudo, que muitas crianças não conseguem sequer chegar aos centros de saúde devido às condições inseguras do país e alertou que, sem um apoio financeiro redobrado da comunidade internacional, o mundo será “confrontado com mortes de crianças numa escala nunca vista em meio século".
"Crianças gravemente desnutridas têm até onze vezes mais probabilidades de morrer de diarreia e sarampo do que crianças bem nutridas. Com tais taxas, a Somália está à beira de uma tragédia de uma magnitude nunca vista em décadas", insistiu.
Após quatro épocas chuvosas em falta desde o final de 2020 e com uma quinta a aproximar-se em outubro, a Somália está a afundar-se numa crise de fome.
Em todo o país, 7,8 milhões de pessoas, quase metade da população, estão a ser afetadas pela seca, com 213.000 delas em sério risco de fome, de acordo com a ONU.
O chefe do Gabinete de Coordenação dos Assuntos Humanitários da ONU (OCHA, na sigla inglesa), Martin Griffiths, afirmou, no início de setembro, que sem uma ação urgente, será declarado um estado de fome nas regiões meridionais de Baidoa e Burhakaba entre outubro e dezembro.
Segundo Griffiths, a situação é pior do que a última crise de fome registada em 2011, que provocou a morte a 260.000 pessoas, sendo que mais de metade eram crianças com menos de 5 anos de idade.
O porta-voz do OCHA, em Genebra, Jens Laerke, anunciou hoje que a ONU alterou o seu apelo a fundos para a Somália e, na sequência de eventos, aumentou-o. A ONU pede agora 2,26 mil milhões de dólares (2,29 mil milhões de euros), 80% dos quais serão alocados para o alívio da seca.
O plano de resposta também abrange mais pessoas, passando de 5,5 milhões no início do ano para 7,6 milhões.
Antes da revisão, o apelo era financiado a 72%, uma taxa relativamente elevada em comparação com outras crises humanitárias, pelo que atualmente é financiado a 45%, disse Laerke.