“Da avaliação da evolução do número de tratamentos por ano, destaca-se uma redução superior a 40% no número de tratamentos iniciados nos anos 2020 e 2021, podendo refletir o impacto da pandemia de covid-19”, adianta o documento de 2022 do PNHV, um dos programas de saúde prioritários da Direção-Geral da Saúde.
O relatório, que é apresentado hoje, Dia Mundial das Hepatites Virais, salienta, porém, o aumento do número de testes de anticorpo anti-VHC [vírus da hepatite C] realizados em 2021, traduzindo "já uma retoma da atividade, apesar das segunda e terceira vagas da pandemia”.
“Ainda assim, da avaliação pelo grau de fibrose, 43% dos doentes apresentava uma fibrose avançada previamente ao início de tratamento, valor inferior ao verificado nos primeiros dois anos após disponibilização dos novos antivirais de ação direta (AAD)”, alertou o documento.
O PNHV considera este um valor elevado, particularmente a percentagem de cirrose, o que leva a “pensar que ainda existe um número importante de doentes em risco elevado de carcinoma hepatocelular, pelo que importa unir esforços para diagnosticar os doentes que necessitarão de intervenção médica”.
Em 2015, Portugal adotou a estratégia de tratar com AAD todas as pessoas infetadas pelo vírus da hepatite C, independentemente do estadio da doença, assumindo-se como “um dos primeiros países, a nível europeu e mundial, a implementar esta medida conducente à eliminação da hepatite C até 2030”, recorda o PNHV.
De acordo com o relatório, os dados mais recentes da monitorização do tratamento da hepatite C indicam que foram autorizados 30.086 tratamentos com estes medicamentos, dos quais 28.844 já iniciados.
“Quando se restringe a análise ao universo de indivíduos que já concluíram o tratamento e em que se pode avaliar a resposta virológica sustentada, verifica-se que 18.074 estão curados (96,7%) contra 623 doentes não curados (3,3%)”, sublinha o PNHV.
Em 20% dos doentes, a hepatite C crónica pode conduzir à cirrose e ou ao cancro no fígado. Não existe vacina contra a hepatite C e a prevenção da infeção passa por evitar, sobretudo, o contacto com sangue infetado.
O documento refere ainda que o número de tumores malignos do fígado mostra uma evolução crescente, entre 2002 e 2019, de 260 para 599 para o carcinoma de células hepáticas e de 120 e 469 para o tumor das vias biliares intra-hepáticas.
Em 2020, morreram quase três mil pessoas por doença hepática e das vias biliares, cerca de 2,3% do total de óbitos registados no país.
“A doença hepática no seu conjunto, incluindo as comorbilidades, consumo excessivo de álcool e fígado gordo, é uma das mais importantes causas de mortalidade precoce em Portugal”, alerta o documento.
As hepatites virais foram reconhecidas como uma das principais causas de mortalidade a nível mundial, causando cerca de 1,34 milhões de mortes por ano (cerca de 4.000 por dia), ultrapassando a causada por outras doenças infecciosas, incluindo a infeção pelo VIH (680.000), a malária (627.000) e em paralelo com a tuberculose (1,4 milhões).