Os atacantes atingiram quatro localidades na área de Kanam, no estado de Plateau, e este é o mais recente de uma série de ataques violentos no centro e norte da Nigéria.
Este tipo de ataques tornou-se frequente, especialmente entre os muçulmanos Fulani, que são principalmente pastores de gado e as comunidades cristãs dos Hausa e outros grupos étnicos, que se dedicam sobretudo à agricultura.
O conflito pelo acesso à terra e à água agravou ainda mais a divisão sectária entre cristãos e muçulmanos na Nigéria, a nação mais populosa da África, com 206 milhões de pessoas profundamente divididas nas suas crenças religiosas.
Os atacantes, que se fizeram transportar de mota, visaram as localidades de Kukawa, Kyaram, Gyambau e Dungur, disse à agência Associated Press (AP) Alpha Sambo, sobrevivente do ataque e líder de uma organização juvenil local que está a ajudar os deslocados e os feridos.
“O número de mortos é superior a 100”, acrescentou Sambo à AP, mas outras testemunhas situam o total de vítimas mortais em pelo menos 130, referindo que muitos ficaram feridos e outros abandonaram as suas residências com receio da repetição dos ataques.
A polícia e o governo do estado confirmaram os ataques, mas não deram detalhes sobre a causa ou o número de vítimas.
As autoridades foram acusadas no passado de reter informações sobre o número de mortos em situações semelhantes.
Nas redes sociais, vídeos vistos pela AP mostram casas destruídas e corpos envoltos em esteiras e sacos em valas comuns. Muitos foram enterrados antes mesmo de os seus familiares terem sido informados da morte, segundo moradores locais.
Embora não tenha sido feita nenhuma reivindicação imediata dos ataques, os sobreviventes responsabilizam os pastores.
Os atacantes “estavam bem armados” com espingardas AK-47 e catanas e chegaram em dezenas de motas, cada uma com até três homens, disse Alpha Sambo.
Dois dias após o ataque, a área de Kanam ainda está tensa e a calma não foi totalmente restaurada, disse Dayyabu Yusuf Garga, presidente da autoridade do governo local de Kanam.
O governador do estado de Plateau, Simon Bako Lalong, deu ordenou às forças de segurança a restauração da paz e ordem nas localidades atacadas e prometeu “tornar difícil para terroristas e outros criminosos estabelecerem as suas bases em qualquer parte do estado”, segundo um comunicado do governo.
O Conselho de Segurança do estado adotou “medidas de longo alcance para fortalecer todas as medidas de segurança”, disse Lalong, mas compromissos semelhantes feitos no passado não conseguiram melhorar a segurança na área, acusam os moradores.
Plateau é vizinho do estado de Kaduna que, juntamente com outros estados do noroeste da Nigéria, é palco de ataques desencadeados por homens armados e sequestros em massa para resgates lucrativos.
A violência continua apesar das repetidas promessas do Presidente nigeriano, Muhammadu Buhari, de acabar com o problema e o envio de mais forças de segurança para a região.
A esta insegurança no noroeste da Nigéria, soma-se a que se regista desde 2009 no nordeste pelos extremistas islâmicos Boko Haram e, desde 2016, devido à sua divisão, pelo grupo Estado Islâmico da Província da África Ocidental (ISWAP, na sigla em inglês).
Os dois movimentos mataram mais de 35 mil pessoas e causaram cerca de 2,7 milhões de deslocados internos, principalmente na Nigéria, mas também em países vizinhos como Camarões, Chade e Níger, segundo dados do Governo e da ONU.