“Abordar o coração do pai é ir à sua essência, é perscrutar o seu mistério e função, é pensar o que aquele pai representa na história da salvação e o que todos os pais representam hoje como património a redescobrir”, escreveu o cardeal, na mais recente edição semanal em português do jornal do Vaticano, ‘L’Osservatore Romano’, citado pela agência Ecclesia.
O Ano dedicado a São José celebra o 150.º aniversário da sua declaração como padroeiro da Igreja universal, feita pelo Beato Pio IX a 8 de dezembro de 1870.
Segundo D. José Tolentino Mendonça, esta celebração foi acolhida por Francisco como uma oportunidade para propor uma reflexão “sobre o sentido perene e atual da figura paterna”.
O arquivista e bibliotecário da Santa Sé considera a missão paterna como “um continuum”, sublinhando que a paternidade “não é simplesmente colocar um filho sobre este mundo”.
“Na realidade, ser pai é aceitar ser construído numa relação de amor com o próprio filho, que modifica radicalmente e define de modo novo o que se era”, precisa.
No artigo publicado no jornal do Vaticano, D. José Tolentino Mendonça parte da pergunta “o que é um pai?” e apresenta três aspetos que a psicologia e as ciências humanas “ajudaram a modernidade a consolidar como adquirido”.
Neste sentido, destaca primeiro a “proeminência que tem o pai na constituição da realidade psíquica de cada pessoa”,;depois, o pai “assoma primariamente no interior do filho como uma interrogação, uma questão por explicar”; em terceiro lugar, “está o facto de constituir uma verdade universal a afirmação de Jesus”: “Ninguém conhece o Pai a não ser o Filho”.
O cardeal português refere que é necessário “aprofundar a dádiva” que o pai representa para passar da “exclusividade do laço materno, fundado na fusão e no desejo, para a complementaridade do laço paterno” que introduz na experiência da “diferenciação e na objetividade da lei”.
Segundo D. José Tolentino Mendonça, a cultura contemporânea “não facilita, em nenhum modo, este reencontro”, por que passou de uma “demolição sistemática a uma estratégica (e eficaz) operação de evaporação do pai”.
“A estratégia é antes a de agir como se o pai, e o que ele representa, tivessem sido removidos. Essa é, em grande medida, como bem o explica o psicanalista Massimo Recalcati, o artifício forjado pelas nossas sociedades.
D. José Tolentino Mendonça afirma que “São José é efetivamente um modelo importante para todos os pais” e adianta que um pai sabe ter cumprido a sua missão quando “realiza a sua paternidade não como um exercício de posse, mas como ‘sinal’”.