“De momento, não há absolutamente nenhuma prova que mostre que a terceira dose é necessária para todos. A nossa posição é de que, basicamente, as pessoas que provavelmente nunca responderão ao ciclo de vacinação com duas doses podem precisar realmente de uma terceira dose, mas não como um reforço, antes como uma conclusão do seu ciclo inicial e estou a falar de pessoas que são imunodeprimidas”, afirma o diretor do departamento de Vigilância do ECDC, Bruno Ciancio, em entrevista à agência Lusa.
No dia em que o ECDC divulga um estudo sobre doses adicionais da vacina anticovid-19, Bruno Ciancio diz à Lusa (numa entrevista que será publicada na íntegra na quinta-feira) que “as pessoas que são severamente imunodeprimidas – por exemplo, recetores de transplantes ou pessoas muito, muito idosas – podem não responder bem às duas doses normais do ciclo de vacinação e podem precisar de uma terceira dose para completar o ciclo inicial”.
“Mas isto é muito diferente de dar realmente um reforço, que presume que [a pessoa] tenha respondido ao primeiro ciclo, mas depois a sua imunidade tenha diminuído”, salienta o especialista.
E, para o responsável do centro europeu, um reforço da vacinação anticovid-19 “não é a abordagem correta”.
“Pode ser que venha a ser, pode ser o caso nos próximos meses. Quando virmos dados da Europa sobre a eficácia da vacina ao longo do tempo e se observarmos que a eficácia da vacina diminui com o tempo, então aí seria uma abordagem útil dar a dose de reforço, mas esse não é ainda o cenário na Europa”, reforça Bruno Ciancio.
A recomendação do ECDC é, então, que uma terceira dose chegue apenas “às pessoas severamente imunodeprimidas, que também o são relativamente a outras vacinas e não respondem normalmente bem”, de forma a “dar-lhes mais uma opção” de gerar mais defesas contra o vírus, indica.
“De momento, não recomendamos à população em geral, considerando também que ainda há tantas pessoas que não receberam a sua vacinação completa. Portanto, o foco deve ser realmente tentar vacinar todos aqueles que ainda não completaram o ciclo de vacinação”, insta Bruno Ciancio, numa altura em que 70% da população adulta da UE está já totalmente vacinada.
Além disso, “há também outro argumento forte e que é o de que, globalmente, há uma escassez de vacinação para muitas pessoas e, além da necessidade de proteger estas pessoas, até que a cobertura vacinal seja muito elevada a nível mundial temos um risco muito elevado de ver novas variantes a surgir”, refere o responsável à Lusa.
E lembra: “Quanto mais o vírus circula, maior é a probabilidade de surgirem novas variantes e isto é algo que precisamos de evitar”.
Em linha com a posição da Organização Mundial da Saúde, Bruno Ciancio defende ainda “uma distribuição igual e justa da vacina ao nível mundial antes de se pensar em proteger a população que pode já estar protegida”.
No estudo hoje divulgado, o ECDC vinca não existir “necessidade urgente” de administrar doses de reforço da vacina anticovid-19, dado que os fármacos aprovados na Europa são “altamente protetores” contra doença grave.
A posição surge numa altura em que 70% da população adulta da UE já foi inoculada com duas doses de vacina contra a covid-19, num total de mais de 250 milhões de pessoas totalmente vacinadas.
Atualmente, estão aprovadas quatro vacinas anticovid-19 pelo regulador da UE: a Comirnaty (nome comercial da vacina Pfizer/BioNTech), Spikevax (nome comercial da vacina da Moderna), Vaxzevria (fármaco da AstraZeneca) e Janssen (grupo Johnson & Johnson).
Sediado na Suécia, o ECDC tem como missão ajudar os países europeus a dar resposta a surtos de doenças.