Segundo os observadores, a violência voltou a aumentar desde outubro passado, mas isso tem passado despercebido, já que a atenção do mundo está concentrada noutras crises, como o ataque da Rússia à Ucrânia e a guerra entre Israel e o Hamas, em Gaza.
A guerra, que matou quase meio milhão de pessoas e fez deslocar metade dos 23 milhões de cidadãos que constituíam a população do país antes do conflito, começou como protestos pacíficos contra o governo do Presidente Bashar al-Assad em março de 2011.
Os protestos – parte das revoltas populares da Primavera Árabe que se espalharam por grande parte do Médio Oriente naquele ano – foram recebidos com uma repressão brutal, e a revolta rapidamente se transformou numa guerra civil total, que foi ainda reforçada pela intervenção de forças estrangeiras em todos os lados do conflito.
O conflito complicou-se também devido a uma militância crescente, primeiro de grupos ligados à al-Qaeda e depois ao autoproclamado Estado Islâmico (EI) até à sua derrota, em 2019.
A Rússia, juntamente com o Irão, tornou-se o maior aliado de Assad na guerra, enquanto a Turquia apoiou uma série de grupos de oposição sírios e os Estados Unidos ajudaram as forças curdas sírias na luta contra o EI. Além disso, Israel realizou ataques aéreos contra o grupo militante libanês Hezbollah e as forças iranianas na Síria.
Com o passar dos anos, os campos de batalha ficaram paralisados num país completamente devastado pela guerra, mas um ataque em outubro passado, quando um drone matou dezenas de pessoas na cerimónia de formatura de uma academia militar na cidade de Homs, controlada pelo Governo, reacendeu a violência.
O Governo sírio e as forças russas aliadas lançaram então um bombardeamento no noroeste do país, controlado pela oposição, atingindo “hospitais, escolas, mercados e campos bem conhecidos e visíveis de pessoas deslocadas internamente”, afirmou a comissão da ONU.
Ao mesmo tempo, os ataques israelitas tornaram-se mais frequentes, dirigindo-se a alvos ligados ao Irão em partes da Síria controladas pelo Governo e atingindo, por vezes, também civis.
A Turquia intensificou os seus ataques às forças curdas apoiadas pelos EUA no nordeste da Síria, enquanto militantes de células adormecidas do EI lançaram ataques esporádicos em diferentes partes do país.
Nas últimas semanas, as áreas controladas pela oposição também sofreram agitação, com protestos a eclodir na região de Idlib contra a liderança do grupo Hayat Tahrir al-Sham, ligado à al-Qaeda, que governa a área.
Com todas as múltiplas e complexas camadas do conflito, não há qualquer resolução da crise à vista para a Síria, o que afeta a ajuda internacional.
Numa recente visita ao noroeste da Síria, o vice-coordenador humanitário regional da ONU para a crise na Síria, David Carden, admitiu que apesar de o plano de resposta humanitária da ONU para 2023 visar apoios de mais de 5 mil milhões de dólares, recebeu apenas 38% dos fundos necessários, ou seja, “o nível mais baixo” desde que as Nações Unidas começaram a fazer estes apelos.
“Há 4,2 milhões de pessoas necessitadas no noroeste da Síria, dois milhões dos quais são crianças”, metade das quais não vai à escola, explicou o responsável, afirmando que “esta é uma geração perdida”.
Para agravar a miséria da Síria, o país ainda enfrentou, em fevereiro do ano passado, um devastador terramoto de magnitude 7,8 na escala de Richter, que matou mais de 59 mil pessoas na Turquia e na Síria.
Cerca de 6.000 pessoas morreram na Síria, principalmente no noroeste, onde a maioria dos 4,5 milhões de habitantes depende de ajuda humanitária para sobreviver.
As agências das Nações Unidas e outras organizações humanitárias têm lutado para financiar programas que proporcionem uma tábua de salvação na Síria, responsabilizando a fadiga dos doadores, a pandemia da Covid-19 e os conflitos que eclodiram noutros locais pelo aumento da indiferença da comunidade internacional relativamente ao país.
O Programa Alimentar Mundial da ONU, que estima que mais de 12 milhões de sírios não têm acesso regular a alimentos, anunciou em dezembro que iria interromper o seu principal programa de assistência na Síria em 2024.
Lusa