O parlamento venezuelano, controlado pela oposição, autorizou Juan Guaidó a declarar o “estado de emergência nacional” devido à “calamidade” causada no país há vários dias sem eletricidade.
Os deputados da bancada da oposição aprovaram por unanimidade o decreto que vigorará por 30 dias.
A Venezuela enfrenta desde quinta-feira passada um corte no fornecimento de energia elétrica que afeta ainda grande parte do país e que, segundo o Governo de Nicolás Maduro, se deve a um “ataque cibernético” à central hidroelétrica de Guri, situada no Estado de Bolívar, no sul do país, que abastece cerca de 70% do território.
Durante o debate de ontem no parlamento sobre o corte de eletricidade que mantém várias regiões sem energia e outras só parcialmente com luz, Guaidó convocou para hoje uma manifestação nacional contra o apagão que se vive no país desde quinta-feira passada.
“Terça-feira, às três da tarde (19:00 TMG e de Lisboa), insto toda a Venezuela, em todas as ruas, em todas as avenidas (…) a expressar o seu protesto”, disse o autoproclamado Presidente interino do país.
Em declarações à imprensa na passada sexta-feira, Juan Guaidó apontou como causas da crise elétrica venezuelana a inépcia e a corrupção, e não a sabotagem, como defendeu o regime de Maduro.
“Estão a desculpar-se, como sempre, com a sabotagem, [mas] não existe sabotagem, é simplesmente a corrupção, a falta de manutenção, a falta de técnicos especializados”, disse Guaidó, após presidir a um ato de comemoração do Dia Internacional da Mulher, no leste de Caracas.
O Governo de Nicolás Maduro responsabilizou o senador norte-americano Marco Rubio e a oposição local pelo problema, que classificou como “um ataque tecnológico” e “sabotagem”.
Mas Guaidó indicou que o próprio Governo chavista identificou uma crise no setor elétrico há quase uma década, em 2009, e anunciou investimentos de pelo menos 100.000 milhões de dólares para enfrentar a emergência.
O Presidente interino recordou também que, em fevereiro de 2017, o parlamento, controlado pela oposição venezuelana, emitiu um voto de censura contra o titular da pasta da eletricidade, Luis Motta Domínguez, que responsabilizava, em parte, pela crescente emergência no setor – o que, na prática, levou à sua destituição.
“A crise elétrica, denunciamo-la desde 2017. Lamentavelmente, isto não é novo: esta crise e esta tragédia são responsabilidade do regime [de Maduro]”, acrescentou.
A Venezuela atravessa uma emergência económica e dos serviços públicos que se manifesta mais fortemente nas regiões rurais, mas que já afeta também a cidade de Caracas, a capital do país e sede dos poderes públicos.
O Governo venezuelano atribui a alegadas sabotagens e ataques as recorrentes falhas nos serviços, mas a oposição e os especialistas apontam o desinvestimento e a má gestão como as verdadeiras causas da crise.
Tudo isto se passa num contexto de tensão política crescente na Venezuela desde que, em janeiro passado, Maduro tomou posse para um segundo mandato presidencial de seis anos, depois de vencer eleições não-reconhecidas pela oposição e pela maioria da comunidade internacional, e, em resposta, Juan Guaidó se ter autoproclamado Presidente interino, tendo sido, quase de imediato, reconhecido por 50 países.
LUSA