“Se há comunidade que viveu o sonho americano foi a portuguesa”, considerou o emigrante, natural do Porto, sublinhando a reputação que os portugueses e luso-americanos granjearam no país pela sua ética de trabalho.
“Em todos os estudos que li, a ética dos portugueses é algo que é sempre sublinhado”, continuou, referindo o sucesso de “emigrantes que vieram virtualmente com nada, apenas a roupa que traziam no corpo e a língua portuguesa”.
O facto de terem construído “o futuro que queriam para si próprios” com uma ética exemplar “é um valor muito grande e um ponto de conexão entre a comunidade luso-americana e os portugueses”, afirmou Gonçalo Sousa, considerando importante “cultivar esta ligação para as próximas gerações”.
No painel da conferência anual do PALCUS, que decorre de forma virtual até 22 de outubro, foi debatido o nascimento e crescimento de comunidades em locais onde não há um número expressivo de luso-americanos, como Texas, Idaho e Arizona, ou as comunidades que já são muito antigas e estão agora a experimentar um ressurgimento, como Havai.
“Temos uma comunidade muito antiga e as pessoas estão a voltar a envolver-se. Há novas pessoas a chegar”, disse Tyler dos Santos-Tam, cônsul honorário de Portugal no Havai, que esteve recentemente de visita à Madeira.
Em Fort Bend, no estado do Texas, Connie Almeida falou de como surgiu uma pequena comunidade portuguesa quando um dentista identificou pacientes com apelidos portugueses e fez a ponte entre eles.
“Não temos restaurantes portugueses nem lojas portuguesas”, referiu Connie Almeida. “O que nos juntou e o que nos liga é a comida e a sua partilha. Qualquer oportunidade que temos de nos juntar e poder saborear a comida portuguesa é algo que antecipamos muito”.
A luso-americana, que emigrou para os Estados Unidos em 1967, disse que será importante alargar os círculos da comunidade.
“Às vezes temos tendência para ser exclusivos e penso que o desafio agora é que temos números pequenos. Como é que nos tornamos mais inclusivos? Porque queremos que esta riqueza da nossa herança influencie mais pessoas”, sublinhou.
Foi também essa perspetiva que deu Rui Pereira, natural de Esposende e atualmente ‘mayor’ da cidade de Wickenburg, no Arizona.
“Acho que devemos convidar brasileiros para as nossas festas, enriquecendo as nossas comunidades, em vez de fazer controlo à porta”, indicou.
Rui Pereira contou que a comunidade portuguesa no Arizona começou “quase por acidente”, quando a fadista Ana Moura deu lá um concerto e isso levou emigrantes portugueses a travarem conhecimento uns com os outros.
Agora, está marcado um concerto da guitarrista Marta Pereira da Costa para março de 2022, em Wickenburg, e a intenção é “usar essa oportunidade para juntar a comunidade portuguesa e introduzir Portugal a um novo grupo de pessoas, que se calhar nem conhece o fado nem a cultura portuguesa”, frisou Rui Pereira.
É o que também pretende fazer Lucy Brazil Wills, emigrante açoriana que se estabeleceu em Idaho, afirmando que as redes sociais são boas ferramentas para chegar a mais públicos e contando como tem usado o Facebook para promover Portugal. “Tenho muito orgulho da minha portugalidade”, declarou.
Nesta edição da conferência nacional do PALCUS, estão marcadas discussões sobre o que querem as gerações mais jovens, como chegar a múltiplas gerações através de meios de comunicação luso-americanos, como estudar em Portugal e ainda questões de política que afetam a comunidade, como o trabalho que está a ser feito para que a língua portuguesa seja reintegrada no programa STARtalk.
A conferência, que tem o apoio da Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento (FLAD), encerra a 22 de outubro.