"Todos esperamos atingir a imunidade de grupo antes do verão, eventualmente. No entanto, os casos de covid-19 vão continuar, infelizmente e, portanto, há que monitorizar a diversidade genética e a emergência de variantes que possivelmente vão ser algo diferentes daquelas que estamos a ver agora a circular", disse o investigador à agência Lusa.
Segundo o microbiologista, esta situação confere "uma importância completamente diferente" porque se está num processo de vacinas, que já estão a ser adaptadas.
"O que vai acontecer com o SARS-CoV-2 é tudo o que acontece com o mundo dos micróbios patogénicos. Eles adaptam-se à nova realidade, o próprio SARS-CoV-2 vai ter que se adaptar à realidade de estar a lidar com os seres humanos que já estão preparados com o sistema imunológico para o combater", salientou
Nessa perspetiva, explicou, o tipo de mutações que vão surgir agora, e as variantes que vão começar a surgir na era pós-vacina, vai fazer com que possivelmente a contribuição do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA), e de todos os outros laboratórios, ao identificar a sequência genética dessas variantes possa constituir "uma preocupação muitíssimo significativa" para as empresas que fazem a produção das vacinas as adaptem de acordo com os vírus que estão a circular.
Questionado se dois vírus se podem juntar, o cientista disse que saiu há muito poucos dias um reporte, ainda não publicado, de uma potencial recombinação, ou seja, uma pessoa ser infetada por mais do que um coronavírus.
"Parece ser possível que os vírus façam trocas do seu material genómico e originem aquilo que chamamos mosaicos genómicos, ou seja, os vírus trocam pressões entre si e criam uma nova estrutura com novas combinações de mutações", explicou.
Advertiu que se isso se verificar como "uma possibilidade real" será "uma preocupação acrescida", porque seria um processo mais rápido de os vírus se poderem adaptar, uma situação a que a comunidade científica "está muito atenta".
Relativamente à variante de Manaus, disse que também é de "grande preocupação", mas que, segundo informações prestadas pelas autoridades de saúde, os sete casos detetados recentemente em Portugal foram "uma introdução única e as coisas parecem estar perfeitamente controladas".
As famílias vieram do Brasil e aparentemente entraram com testes negativos, sendo já diagnosticadas em Portugal quando tiveram sintomas.
"Isto levanta uma questão que eu penso não ter sido muito debatida sobre a real validade dos testes negativos à entrada dos aeroportos", comentou, apesar de considerar ser uma "ótima medida".
No entanto, é a demonstração de que um teste negativo à chegada ao aeroporto não significa que a pessoa não esteja infetada, mas pode estar no período incubação.
"Pensamos que isto pode ter sido uma das grandes causas de um elevado número de introduções durante o mês de janeiro da variante do Reino Unido no nosso país", salientou, lembrando que, na primeira quinzena de dezembro, não era preciso apresentar teste.
Fazendo um balanço de um ano de pandemia, o investigador disse que a forma como a comunidade científica lidou com esta pandemia não tem precedentes: "Deu as mãos de uma forma que nunca aconteceu historicamente e isso viu-se com o processo de desenvolvimento de vacinas", enalteceu.