"Após a primeira onda de agressão armada russa contra a Ucrânia em 2014, cerca de 16.000 quilómetros quadrados das regiões de Lugansk e Donetsk ficaram contaminados com minas e restos de explosivos de guerra", afirmou o Ministério ucraniano num comunicado, publicado hoje por ocasião do Dia Internacional de Consciencialização sobre o Perigo das Minas Terrestres.
"Hoje, de acordo com estimativas preliminares, a contaminação (incluindo minas e outros materiais explosivos) atinge 80.000 quilómetros quadrados do território da Ucrânia, segundo a nota.
O Ministério dos Negócios Estrangeiros da Ucrânia recordou que o país celebra este dia "sob incessantes ataques à bomba (…) no contexto de outros crimes horríveis da Federação Russa com recurso a armas proibidas que podem ser consideradas excessivamente prejudiciais ou ter efeitos indiscriminados, o que aumenta o perigo das minas dezenas de vezes".
Os "russos continuam a trazer implacavelmente a morte e o caos ao solo ucraniano. Enquanto todo o mundo civilizado abandona e proíbe as minas terrestres antipessoal, a Rússia está a aumentar o seu uso na Ucrânia e até mesmo a testar novos tipos de minas antipessoal, como POM-3 e outras", refere-se no comunicado.
"A Federação Russa está em guerra não apenas com as Forças Armadas da Ucrânia, mas também está a lutar contra a população civil da Ucrânia, violando grosseiramente a lei da guerra", sublinhou o Ministério.
Os militares russos em retirada "instalam armadilhas, proibidas pela lei internacional, inclusive em estabelecimentos de venda de alimentos, residências particulares e cadáveres humanos", denunciou o Ministério ucraniano.
Também a organização não-governamental (ONG) Handicap International declarou hoje que o exército russo está a usar minas antipessoal "inteligentes", especialmente concebidas para detetar a presença de alvos a uma distância de 16 metros e explodir à altura dos olhos, pescoço e virilha.
Essas minas russas, chamadas POM-3 e também conhecidas como Medallion, são de uma nova geração e têm um sensor sísmico para detetar uma pessoa a cinquenta passos de distância e detonar a carga sem que o dispositivo tenha que ser pisado ou manipulado, denunciou a ONG num comunicado.
As minas foram colocadas pelas forças russas em 26 de março em território ucraniano por meio de foguetes disparados de lançadores terrestres especialmente projetados para esse fim, de acordo com o recente relatório divulgado pela organização de direitos humanos Human Rights Watch (HRW).
“Cerca de 80% das vítimas registadas no ano passado eram civis, das quais 30% eram crianças. As minas matam e causam ferimentos graves, muitas vezes graves traumas físicos e psicológicos de longa duração”, disse Anne Héry, diretora do serviço jurídico da Handicap International.
As minas antipessoal são proibidas pelo Tratado de Otava de 1997, assinado por 164 países, entre os quais a Ucrânia, mas não a Rússia.
Segundo a Handicap International, estas minas já foram usadas no conflito entre o Exército ucraniano e grupos armados pró-russos na região leste de Donbass desde 2014.
A Rússia lançou em 24 de fevereiro uma ofensiva militar na Ucrânia que matou pelo menos 1.417 civis, incluindo 121 crianças, e feriu 2.038, entre os quais 171 menores, segundo os mais recentes dados da ONU, que alerta para a probabilidade de o número real de vítimas civis ser muito maior.
A invasão russa foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que respondeu com o envio de armamento para a Ucrânia e o reforço de sanções económicas e políticas a Moscovo.