Num debate aberto do Conselho de Segurança das Nações Unidas (ONU) sobre “Riscos derivados de violações dos acordos que regulam a exportação de armas e equipamentos militares”, países-membros ocidentais questionaram a convocação deste debate pela Rússia, que preside este mês ao organismo, frisando que a Ucrânia tem direito à autodefesa de acordo com a Carta da ONU.
Para o representante diplomático norte-americano, Robert Wood, a reunião foi "um esforço velado para retratar a Rússia como um ator responsável no controlo de armas, tentando ofuscar a realidade de que lançou uma invasão armada injustificada ao seu vizinho".
"Não devemos fingir que o conflito na Ucrânia é uma questão de sistemas de exportação de armas. A Ucrânia foi invadida e tem todo o direito de se defender e a comunidade internacional tem todo o direito de continuar o seu apoio de longa data à defesa da Ucrânia", adiantou.
O diplomata da missão dos Estados Unidos junto da ONU indicou ainda que o Governo ucraniano comprometeu-se a salvaguardar e contabilizar adequadamente o equipamento de defesa transferido, com a formação de uma comissão em 2022 para monitorização de equipamentos militares doados.
"A Rússia, por outro lado, nunca deixou que os factos interferissem nas suas falsas narrativas. Num esforço flagrante para desacreditar a Ucrânia e enfraquecer o apoio internacional à autodefesa da Ucrânia, a Rússia continua a espalhar desinformação sobre desvios", disse Wood.
"Na verdade, o maior risco de tráfico ilícito vem da captura de armas no campo de batalha pela Rússia e pelas forças pró-Rússia. A Rússia propôs o fornecimento de armas capturadas a separatistas no leste da Ucrânia. Essas declarações e ações são perigosas e irresponsáveis", advogou.
O diplomata norte-americano acusou ainda a Rússia de recorrer a "regimes desonestos" para tentar obter ilegalmente armas e equipamentos para apoiar as suas operações militares, sublinhando que, em novembro de 2022, a Coreia do Norte entregou ‘rockets’ e mísseis à Rússia para uso do Grupo Wagner, violando diretamente as resoluções do Conselho de Segurança, de que a Rússia é membro permanente.
Wood recordou ainda que o Irão também transferiu ‘drones’ para a Rússia, "um facto que o ministro das Relações Exteriores do Irão reconheceu em declarações públicas em 05 de novembro", e frisou que essas aeronaves não-tripuladas estão a ser usadas para atacar as infraestruturas civis da Ucrânia.
O embaixador russo Vasily Nebenzya respondeu que estas "acusações infundadas" são "oficialmente refutadas" pelo Governo russo.
Numa aparente referência aos Estados Unidos, Nebenzya criticou países que distribuem armamento com base "nas suas próprias ambições geopolíticas", para "várias regiões do mundo, incluindo Médio Oriente, Balcãs e norte da África".
"A crise que [os países ocidentais ] provocaram na Ucrânia foi uma demonstração clara da falta de sinceridade no apoio aos esforços internacionais para combater a disseminação descontrolada de armas", afirmou o diplomata russo, acrescentando que Moscovo alertou repetidamente para as "perigosas consequências" de armar Kiev.
"Tanto os Estados Unidos, quanto os seus aliados, estão a pressionar países terceiros para que violem acordos com a Rússia e outros Estados, a fim de aumentar as compras de armas para Kiev", acusou.
Este debate contou ainda com a intervenção da alta representante para Assuntos de Desarmamento da ONU, Izumi Nakamitsu, que alertou para a importância de medidas para combater o potencial desvio de armas e munições.
De acordo com as normas internacionais, citadas por Nakamitsu, qualquer transferência de armas e munições deve incluir avaliações de risco pré-transferência e controlos pós-embarque, como inspeção no local e verificações do utilizador final.
"O rastreamento de armas e munições é outra medida importante para lidar com o desvio de forma eficaz. Isso requer a marcação de armas convencionais e suas munições, manutenção de registos e protocolos para cooperação internacional", indicou.
Lusa