O estudo foi publicado pelo Centro de Política Global de Plásticos, da Universidade de Portsmouth, Reino Unido, numa colaboração com o movimento “Break Free From Plastic”, e surge numa altura em que o tema do plástico está em debate na ONU.
Esta semana, desde segunda e até sexta-feira, realiza-se na UNESCO a segunda sessão do Comité Intergovernamental de Negociação sobre Poluição Plástica, liderada pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) e por França.
Pretende-se que os representantes dos governos reunidos em Paris negoceiem um tratado global sobre plásticos que seja juridicamente vinculativo.
Especialistas citados no estudo dizem que a revolução das embalagens reutilizáveis está próxima, e afirmam que as conversações desta semana devem ter como objetivo a adoção em massa de sistemas de reutilização, para reduzir a poluição por plástico.
As embalagens são responsáveis por 40% de todo o plástico na União Europeia (UE) e os resíduos de embalagens de plástico deverão aumentar 46% até 2030, de acordo com a Comissão Europeia (CE).
A Comissão indica que os 10 artigos de plástico de utilização única mais frequentemente encontrados nas praias europeias, juntamente com as artes de pesca, representam 70% de todo o lixo marinho na UE. Os sistemas de reutilização poderiam reduzir a poluição por plásticos em 30% até 2040, indica o documento hoje divulgado.
Os investigadores alertam que é necessária uma abordagem faseada para que toda a economia mude de sistemas de embalagens de utilização única para embalagens reutilizáveis, o que pode reduzir significativamente os impactos do plástico no clima, ambiente, biodiversidade e saúde.
E notam que já há muitos sistemas de reutilização desenvolvidos que funcionam e que podem ser alargados.
“Fundamental para os verdadeiros sistemas de reutilização é o empréstimo de embalagens aos consumidores, que são devolvidas várias vezes até se atingir um ´ponto de equilíbrio´ sustentável”, diz um comunicado sobre o estudo divulgado hoje
Os especialistas consideram que as embalagens da próxima geração devem ser padronizadas, empilháveis e etiquetadas eletronicamente, e devem ser duradouras, leves, laváveis e não tóxicas.
Os autores do estudo dizem que a globalização da reutilização deve começar por locais como estádios de futebol ou de festivais de música, com um potencial para gerar aceitação do público.
A mudança deve ocorrer primeiro nas cidades e vai demorar a generalizar-se, exceto em ambientes fechados como escolas, hospitais ou áreas de restauração em centros comerciais, onde deve ser rápida. No setor da “fast food”, os investigadores preveem dificuldades, porque as embalagens acabam por se dispersar. Por isso propõem que o consumidor pague uma taxa quando faz o pedido por aplicações e não devolve a embalagem.
No documento considera-se que as empresas de distribuição terão um papel importante na economia de retorno e reutilização, recolhendo as embalagens enquanto fazem entregas.
A maioria (82%) dos especialistas ouvidos para o estudo salientou os custos elevados e a mudança de infraestruturas para as embalagens reutilizáveis, enquanto outros se afirmaram preocupados com a higiene e a perda de identidade da marca.
Mas todos criticaram os governos por falta de visão e por investirem demasiado na reciclagem e na incineração, que são frequentemente obstáculos à reutilização.
O tratado que está a ser debatido em Paris é visto pelos especialistas como uma grande oportunidade para os decisores políticos apoiarem o aumento dos sistemas de reutilização, limitarem a produção de plástico virgem, estabelecerem normas e reforçarem as infraestruturas.
Segundo os peritos em reutilização, os objetivos de redução do plástico virgem estão 25 anos atrasados em relação aos objetivos de emissões de dióxido de carbono.
A CE anunciou recentemente novas leis contra a "fonte de resíduos em constante crescimento" das embalagens e o "declínio acentuado" das taxas de reutilização, prometendo apoio aos sistemas de reutilização. Segundo a CE, aumentar a reutilização poderá criar mais de 600.000 postos de trabalho até 2030.